quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A conformidade do inconformismo

Fazia tempo. Muito tempo. Não lembro-me quando foi a última vez, para ser sincera.
Virou rotina. Simplesmente estava acostumada. Espanto? Por incrível que parece não. Decepção? Também não, me adaptei com elas. Falta de sensibilidade? Ausência de humanismo? O individualismo feroz da sociedade? Definitivamente, não encontro uma justificativa. As vezes me culpo. Faço um auto-julgamento. No entanto, no outro dia, a indiferença é a mesma.
Ontem isso mudou. Bem cedinho, lendo a Folha de S. Paulo fiquei intacta. Aquela fotografia despertou-me para um mundo adormecido. Adormecido num sono turbulento, regido por pesadelos. Não se vê a hora de acordar deste sonho, mas o aconchego de nossa cama é tentador. Não fazemos nada para despertar. Nem podemos.

Apesar de não ter “nascido há dez mil atrás”, já vi muita coisa neste mundo. Vi um metalúrgico tornar-se presidente do Brasil e um negro assumir a presidência norte-americana. Assisti a Seleção Brasileira ser Pentacampeã, e perder o Hexa enquanto um jogador arrumava a meia.
Presenciei desperdício de comida, enquanto outro passavam fome. Já vi quartos de hospitais confortáveis, contrastando com acomodações do SUS, que se quer têm roupa de cama. Li no jornal que namorado matou namorada. Assisti na TV que filho assassinou os pais. E pai jogou filha pela janela. Vi bandidos guerreando com polícia e também com outros bandidos. Até polícia em luta contra polícia, eu já vi. Pasmem! Fui surpreendida com traficantes mirando um helicóptero policial. Em 18 anos quantas coisas vivi, presenciei... Em muitas me calei. Estamos condenados ao conformismo.
Neste mundo globalizado, recebemos tantas informações e tudo tão rápido, que fica difícil digerir. Além disso, nos alienamos perante as mazelas da sociedade. Tudo é visto no conforto do lar. Somos informados, captamos a mensagem, mas não agimos como fruidor, atuando ativamente na sociedade. Pelo contrário, adotamos a passividade.
Fiquei inconformada comigo mesma. Como pude fechar os olhos. Encarar como se tudo tivesse bem. Sediar a Copa ou as Olimpíadas não atesta qualidade de vida da população. Uma cadeira na ONU não é atestado de um povo provido de educação de qualidade. Índices apontando 85% de aprovação de um presidente, infelizmente não elucidam uma política transparante.

Ontem, ao ver na capa de um jornal um “corpo” dentro de uma carrinho de supermercado, tive uma grande decepção. Que mundo é este que vivemos? Ah, era traficante, me disseram. Antes de ser traficante, ele foi filho, quem sabe pai. Toda vida tem seu valor. Não podemos aceitar a mercantilização da vida, na qual uma vale mais que a outra. Na condição de ser humano, todos somos iguais, providos dos mesmos direitos, regidos por valores, metas e um sentido vital.
Despertei para o mundo egoísta, frio, individualista. Que mundo é esse? Por que nos conformamos com algo totalmente inconformável?

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