segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Amazônia: uma oportunidade única

Sempre sonhei em conhecer a Europa, estar ao lado da Estátua da Liberdade, novamente encontrar o Mickey, ver de perto a grandiosa Muralha da China. Muitos sonhos. Muitos lugares para explorar. Ah, como é bom viajar...
No Brasil, tive oportunidade de conhecer várias regiões, e curiosamente, nunca pensei em ir para o local que abriga a maior riqueza nacional. O lugar com extensa diversidade, agregada a beleza natural de um floreta. Jamais passou por meus pensamentos conhecer a Amazônia. Contraditoriamente, estou com viagem marcada para a maior Floresta do Mundo. E confesso, não poderia estar mais animada,

Hotel cinco estrelas? Três refeições inclusas? Traslado a cada hora? Passeios turísticos pelos pontos mais belos da região? Nada disso. Acomodação será em um barco, as noites de sono serão em redes. As refeições, nós iremos prepará-las. Mais do que passeios, vamos estudar a região, realizar pesquisas de campo e analisar as probabilidades de aplicação de políticas públicas. O transporte é através do rio. Nada mais perfeito. Nada mas propício para assimilar aquela realidade.
Vamos desconsiderar o tempo do relógio, conduzidos pelo tempo da natureza. Vamos abdicar de nossa ideologias capitalistas e conhecer aquela extensa diversidade cultural, os princípios que rege aquelas comunidades. Levaremos técnicas, estudos afim de melhor a qualidade de vida do homem amazonense, com a certeza de que receberemos em troca toda experiência e sabedoria daqueles que primeiro habitaram nossa nação e resistiram à colonização.

O Projeto é aplicado na reserva do Tupé, com pesquisadores multidisciplinares, que incentivam, dentro do Biotupé, o efeito multiplicador para disseminação do conhecimento e das políticas públicas. Com oito anos de trabalho, muitas pesquisas realizadas e muitas práticas desenvolvidas, entre elas as que privilegiam a geração de renda como “Tanque rede”, o Projeto Biotupé está em sua terceira etapa. Há apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Ministério do Meio Ambiente, além de uma parceria com a Puc-Campinas.

Muitas organizações desenvolvem projetos na região amazônica, com propostas formatadas, que na maioria das vezes não correspondem a realidade da região. As prioridades daquela população são outras, os desafios são diferentes e as condições mínimas também. Dependem do transporte através do rio, sendo necessário considerar os tempos de cheia e seca. Além do mais, a energia elétrica é luxo nas comunidades, com cotas restritas e forte dependência do diesel, altamente poluidor. Além do mais falamos de uma comunidade isolada, de defícil acesso.
Mais que impor projetos, há necessidade de ouvir as pessoas, entender o que realmente precisam e só então propor práticas. Para isso, é de suma importância ver com os “próprios olhos”, “sentir na pele”, o dia-dia dos habitantes.

O lema do Projeto Biotupé é levar às pessoas, aquilo que já é delas. É uma espécie de orientação. Nesta terceira fase, há analise das políticas públicas desenvolvidas, o que deu certo e o que ainda pode melhor. A atuação tem o viés de disseminar o conhecimento e preservar toda biodiversidade amazonense.
A novidade é que a parceria com a Universidade levará alunos de diversos cursos à região onde, além de fiscalizar projetos em andamento, terão oportunidade de desenvolver proposta dentro de sua área de formação. No meu caso, estamos com projeto de realizar um documentário. Já conseguimos cinegrafistas, temos uma pré-pauta e uma boa expectativa de colher extenso material.

As coisas na vida acontecem inesperadamente e curiosamente. Meu interesse pelo estado do Amazonas surgiu em uma palestra com Roberto Godoy, editor especial do Estadão. Godoy enfatizou o mercado de trabalho pouco explorado, na área jornalística, da Amazônia, as possibilidades que a região oferece aos jornalistas, o que me chamou atenção. E ai, entram as coincidências. Na hora de escolher uma Prática da Formação (atividade realizada pela Puc) havia vagas para “Desenvolvimento e Sustentabilidade da Amazônia Central” . Resolvi arriscar.

O Projeto é bastante promissor e já colhe resultados. Mas o mais fascinante é conhecer os moradores de lá. É o mundo da existência, no qual o respeito rege a ideia de preservação.
Conhecer é ouvir o que outro tem a dizer. Alguns depoimentos apresentados em nossas reuniões, traduzem sonoramente, o que o morador da Amazônia sente emocionalmente. Frases como “Gostaria de voltar para nossa moloca, mas tenho medo”, chocam-nos, pois relatam a crueldade dos “brancos” ao dominar a região. Dizeres como “Se dependesse de mim mudaria para bem longe dos 'brancos'”, confirmam a agressividade dos dominadores.
Do outro lado, temos especialistas que assumem que “índios estão num parque zoológico para serem observados”, mas nada propõem para mudar a situação. Os indígenas de lá têm a consciencia de serem “os donos dali”, afinal, como dizem “nós nascemos ali”, porém se submetem à exploração, temem os “invasores”.
É interessante ver a imagem que o povo amazonense tem da terra: “Se não temos a terra, não temos condições de comer”. Na sociedade do consumo, a terra traduz-se em posse, poder.
Outro ponto que me chamou atenção, foi a força, a garra e o reconhecimento das mulheres dentro das comunidades. Uma amazonas chega encarar um grande empreendedor, e com um olhar de desprezo e indignação, acerta nas palavras:”Suas mães não carregaram vocês o suficiente.”
Para eles, “floresta é simplesmente vida” e em suas orações, a única coisa que pedem, ajoelhados, perante uma árvore é que “Deus lhe conserve sempre plantada em sua casa celestial.”

A ideia é levar conhecimento e técnicas ao povo amazonense, porém não há dúvida de que ,quem tem muito aprender somos nós, viajantes universitários da metrópole.

2 comentários:

  1. Gláucia muito sucesso nesse projeto pois aquela região é carente de tudo e aquilo que vier à plantar por lá, tenho certeza que será com amor e será de grande valia para toda nossa sociedade.

    Parabéns, de coração!

    Claudio Vieira.

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