quinta-feira, 17 de março de 2011

Filhos: Melhor não tê-los?


Como é importante a gente conversar com as pessoas, não é verdade?
A gente pode desabafar, compartilhar alegrias, sofrimentos. Aprender e ensinar.
É nas conversas mais simples e desinteressadas que ganhamos mais. É na sinceridade da confissão que crescemos enquanto pessoas.
Trocando ideias nada se divide, simplesmente multiplica-se.

Uma conversa sem pretensão ou expectativa acabou me fazendo refletir.
Falava com uma jovem senhora e o assunto era a tragédia no Japão. Como dói ver aquelas imagens, saber que tanta gente se foi e tantas não tem para onde ir
Falamos das vidas e também do que a natureza tem feito com elas.
Num momento paramos e pensamos: Antes também estávamos em fúria. Provocamos, sem piedade, o meio ambiente.

Claro, mudanças climáticas, no eixo da terra, as placas tectônicas fazem parte do ciclo natural. É pretencioso demais pensar que não passariamos por isso.
Sim, temos tecnologias, conhecimento e muita ciência. Mas a gente se esquece que a natureza não está subjulgada a nós. Pelo contrário somos meros integrantes dessa mãe.

A mulher que conversava pegou esse ponto de respeito á natureza e me disse que de certa forma ela fazia sua parte.
A senhora não tem filhos.
Confesso que na hora não entendi. Logo, veio a explicação.
Colocar filhos no mundo é colocar mais algumas horas no banho, mais energia elétrica dispensada, mais lixo para o planeta, e até depois de um tempo, mais um carro. Em outras palavras, um filho também seria sinônimo de mais emissão de gás carbônico.
Ela tinha toda, toda razão.
Quem em sã consciência quer ter um filho?
Os conscientes ambientais saberiam o dano que isso pode causar ao ambiente.
Os conscientes sociais não colocariam mais um ser pra sofrer. Sofrer para ser alguém na vida, e ainda engolir uns sapos desta sociedade.

Sempre tentei ter o máximo de consciência possível. Mas as vezes a utopia predomina o meu ser.
Quero ter filhos, mesmo sabendo que isso pode significar um ato agressivo de minha parte.
Confesso que prefiro ser inconsciente, pois assim posso ter esperança.

Descarto os impactos que uma nova vida pode gerar. Não por não valorizar o meio ambiente, mas pelo simples fato de que minha característica "sonhadora" e esperançosa acredita que essa nova vida pode sim ter uma atuação a mais na natureza. Utopista que sou, acredito que esse agir pode ser positivo.

Muita gente ainda vai nascer como simples poluidores. No entanto, quem sabe nessa remessa de gente não venha um. Apenas um com algo mais. Algo capaz de mudar nossa sociedade.
Quem sabe esse alguém nos traga a real consciência: Quem somos, à quem pertencemos e quais limites devemos respeitar. Para o nosso bem.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma fome que podemos saciar


Distraidamente. Essa é palavra.
Um passo depois do outro. Exatamente como me ensinaram. Só tome cuidado com a bolsa. Não se distraia tanto.
Andar pelas ruas do centro de Campinas não é passear. O fluxo de veículos, o cinza do asfalto e as luzes dos cruzamentos tornam o caminhar, uma simples alternação de pernas, de forma rápida já que o objetivo é chegar logo. Claro, estamos sempre atrasados.

O fato é que muitas coisas encontramos no caminho. Teve gente que encontrou pedras. Hoje, muitos encontram buracos.
O fato é que também encontramos coisas boas, mas a pressa ou a desatenção não nos faz ver. Enxergamos para não sermos atropelados. Desviamos para não passar por cima. Mas reparar, ninguém repara.

De bolsa e sacola, eu andava. Os carros corriam e o sinal de pedrestre sugeriu que eu aguardasse.
Distraida fui surpreendida. Abordada.
Ainda bem que ela assim o fez. Senão não seria vista. Olhos fechados. Tentando não enxergar a realidade. Ainda bem que tem gente que grita!

Uma senhora, de baixa estatura, traços de sofrimento, traje de pobreza. Pediu-me um trocado. Como muitos fazem durante nosso caminho.
Eu tinha a moeda, mas tirar da carteira me traz receio... Receio de coisas que me dizem. Medos que me colocam.
O fato é que não daria esmolas. Porém, trazia na minha mão um pacotinho de bolachas.
Sequilhos de milho, para ser específica.

Os olhos da senhora fitaram o que tinha entre meus dedos. E não tive dúvida. Era o olhar da vontade. Não de ter algo, mas a vontade de saciar a fome.
Dei os biscoitos.
Não senti o gosto do milho. Mas um outro sabor saciou a minha fome, que diferente da que ela sentia, não era de comida.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Ainda não falaram tudo


"Você ainda não escreveu nada sobre as mulheres?" - Gritou minha mãe.
Não... Já falei tanto de nós... Vai ficar chato. É dificil falar de si mesmo.
Aliás, difícil não é. Mas se a gente ressalta as qualidades sentem falta da modéstia. Se tentamos reconhecer os defeitos, dizem que aquilo que outrora fez falta, agora é uma dissimulação.

Todo mundo já falou de nossas conquistas. Alguns lembraram-se de agradecer as opeárias de Nova Iorque.
Tem gente que ainda lembra do tempo em que se era mulher do homem, e não mulher após ser menina.

No ano passado, nessa mesma data, um post com mesmo assunto fluiu no blog (http://blogs.cbncampinas.com.br/estagiarios/Sao-so-garotos). Nele ressaltei a mulher contemporânea, que não perdeu a sensibilidade do passado, os dotes da submissão, nem o conforto do colo materno que chegou a carregar no ventre meninas e meninos. Não perdemos nosso lado delicado, nosso gosto pelos cortejos. Só ganhamos: Experiência e também soubemos criar e aproveitar as oportunidades.
Em 2010 ressaltei o papel de destaque das mulheres na eleição (http://blogs.cbncampinas.com.br/estagiarios/Mulheres:-de-todas-as-cores,-de-varias-idades...).

Depois pude escrever sobre vitória de uma delas. Na posse os holofotes não estavam só sobre a "presidenta". Mais gente roubava a cena. Claro, tinha que ser mulher. Marcela Temer lançou até moda. A das tranças. (http://blogs.cbncampinas.com.br/estagiarios/Mas,-quem-e-a-nova-presidente(a))

Depois, o ano virou, mas nós mulheres jamais saimos de pauta.. Uns falam da sensibilidade, do nosso olhar diferente sobre o mundo... Mas há quem diga que estamos cada vez mais parecidas com eles. (http://blogs.cbncampinas.com.br/estagiarios/Mulheres:-Presas-ou-predadoras).

Parece que já falei de tudo sobre nós. Se não falei, com certeza já falaram.
Escrever o que todos sabem me parece fútil demais.
Escancarar o que é visível surge como desnessário.
O problema é que as vezes o importante surge da futilidade, o vísivel a gente simplesmente enxerga, sem ver.
Outro dia li: "As coisas indispensáveis de nossa vida, geralmente, aprendemos com mulheres."

Pra mim, isso faz muito sentido.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O balanço do busão, orquestrado por palavras


"No balanço do busão no fungado da Sanfona.
O que atrapalha é o braço da poltrona"
Não lembro da letra na voz de Miltinho... Mas não me esqueço do Falamansa interpretando esse forró.

Foi nesse mesmo balanço, porém sem o embalo do instrumento que deixei de reclamar da lotação nos transporte público. Sequer me importei com o peso do meu material, e não me indignei (as vezes a gente tem que fechar os olhos) com os senhores que não tinham onde sentar.
Horário de pico. Muita gente indo pro trabalho. Muito estudante indo pra aula.

Quem está sentado, dorme. Os de pé, invejam.

As freadas não me incomodaram. O aperto não me sufocou.
Fixei o olhar na senhora a minha frente. Ela estava com os fones de ouvido, como a maioria. Sentada, a mulher lia um pequeno livro. Nele, pequenas reflexões.
De pé, eu tentava acompanhar a leitura.

Os olhos engoradaram e com um pouco de força consegui. Que delícia aquelas palavras.
Eram frases sobre as mulhres, proferidas por elas.
Não sou feminista, mas gosto da valorização da mulher, da mesma forma que reconheço o mérito dos homens.

O percurso do ônibus é longo. Demora...
Mas, pressa pra que quando se tem tanta coisa para ler?
Algumas vezes, a senhora era mais rápida e virava a página antes de eu concluir a última linha... Tudo bem, tudo bem...

Consegui ler que as mulheres não querem ser oprimidas, e também não serão opressoras.

E isso fez sentido: Queremos sim nosso lugar, mas ele não compromete o posto dos homens.
Sim, nós queremos igualdade, mas não homogenia.
Queremos ser reconhecidas, mas para isso ninguém perderá seu mérito.
A gente quis sair de casa, mas o lar continua com o aconchego materno.
Tivemos necessidade de ir além, mas a gente sabe o caminho pra voltar ao começo.
Temos uma representante na presidência, mas antes do título "presidenta" (como alguns preferem) era chamada de mãe.

São homens e mulheres no embalo do ônibus.
São trabalhores e trabalhadoras.
Se a gente só reclamar do sufoco não perceberemos o que nos cerca.
Já pararam pra pensar quanta coisa foi escrita?
Quantas delas nós já lemos? E se lemos, refletimos?
Um livro distrai.. E ameniza o custo dos R$2,85 de uma tarifa de ônibus.