quarta-feira, 2 de março de 2011
O balanço do busão, orquestrado por palavras
"No balanço do busão no fungado da Sanfona.
O que atrapalha é o braço da poltrona"
Não lembro da letra na voz de Miltinho... Mas não me esqueço do Falamansa interpretando esse forró.
Foi nesse mesmo balanço, porém sem o embalo do instrumento que deixei de reclamar da lotação nos transporte público. Sequer me importei com o peso do meu material, e não me indignei (as vezes a gente tem que fechar os olhos) com os senhores que não tinham onde sentar.
Horário de pico. Muita gente indo pro trabalho. Muito estudante indo pra aula.
Quem está sentado, dorme. Os de pé, invejam.
As freadas não me incomodaram. O aperto não me sufocou.
Fixei o olhar na senhora a minha frente. Ela estava com os fones de ouvido, como a maioria. Sentada, a mulher lia um pequeno livro. Nele, pequenas reflexões.
De pé, eu tentava acompanhar a leitura.
Os olhos engoradaram e com um pouco de força consegui. Que delícia aquelas palavras.
Eram frases sobre as mulhres, proferidas por elas.
Não sou feminista, mas gosto da valorização da mulher, da mesma forma que reconheço o mérito dos homens.
O percurso do ônibus é longo. Demora...
Mas, pressa pra que quando se tem tanta coisa para ler?
Algumas vezes, a senhora era mais rápida e virava a página antes de eu concluir a última linha... Tudo bem, tudo bem...
Consegui ler que as mulheres não querem ser oprimidas, e também não serão opressoras.
E isso fez sentido: Queremos sim nosso lugar, mas ele não compromete o posto dos homens.
Sim, nós queremos igualdade, mas não homogenia.
Queremos ser reconhecidas, mas para isso ninguém perderá seu mérito.
A gente quis sair de casa, mas o lar continua com o aconchego materno.
Tivemos necessidade de ir além, mas a gente sabe o caminho pra voltar ao começo.
Temos uma representante na presidência, mas antes do título "presidenta" (como alguns preferem) era chamada de mãe.
São homens e mulheres no embalo do ônibus.
São trabalhores e trabalhadoras.
Se a gente só reclamar do sufoco não perceberemos o que nos cerca.
Já pararam pra pensar quanta coisa foi escrita?
Quantas delas nós já lemos? E se lemos, refletimos?
Um livro distrai.. E ameniza o custo dos R$2,85 de uma tarifa de ônibus.
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