domingo, 22 de abril de 2012

O familiar do doente com câncer

Mais um trecho do livro-reportagem que configurará meu TCC. (Assim espero)


Quando não dá pra fazer mais nada. Ou sendo mais otimista, quando pouco se pode fazer. Pouco pra quem faz, sempre muito para quem recebe. Todavia, quem faz, faz tudo: O possível e o impossível, afirmam eles.

Ninguém quer estar nesta situação. No entanto é inevitável. Talvez, não imprevisível, mas em grande parte dos casos, inaceitável.

É muito choro. Nas lágrimas tentam boiar a esperança. Olhos que já não refletem o externo, pois este já não se vê. Um olhar pra dentro. Pra onde dói. Só para aquele que sofre. Sofre com algo que destrói.
A maior destruição aliás, é a que o câncer de próstata causa. Não se sabe se em sofrimento - os outros têm também tal mérito - mas ao menos em incidência, assim está registrado no INCA. Neste Instituto, alguém usou a proporção após um estudo detalhado. A conclusão é que, de a cada cem mil homens, 62 famílias sofrem. Sentem o desamparo. Sofrem. Sentem a impotência de não poder fazer algo. Sofrem...

Ainda na ideia de proporção, nem metade deixará o sofrimento.
Em pesquisas, pelo menos, se projeta um futuro. Quem está sobre uma maca, está fadado a viver o presente, quem sabe lembrar-se do passado.
Um futuro que alcança 2015, quando estima-se, 15 milhões de pessoas terão o diagnóstico do câncer. Lá, serão nove milhões de família chorando. Seis milhões comemorarão um futuro mais longo, uma qualidade de vida melhor.

Nove milhões frente à morte. Um clichê que ninguém se acostuma: A única certeza deste mundo. Sabe-se, sem aceitar, sem compreender.

Difícil pra quem está prestes. A mesma dificuldade para aquele que está próximo. Não do fim. Mas daquele já passou do início e da metade.
Sofre quem tem, quem vê, quem está, quem sabe do diagnóstico.
É aquele que abre mão da rotina de trabalho e família, não por conta de estar debilitado, mas sim, por amar - amar demais, geralmente.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Coisas da minha cabeça

Nem sempre o choro expressa tristeza. Ás vezes, é o desespero de estar de frente com algo novo. Novo que pode ser bom.

O sono não é cansaço mental ou físco. É uma necessidade biológica, que muitos traduzem na fadiga - o estresse de estar sempre acelerado demais.

A falta dele, pode ser o receio de não dar tempo de fazer tudo que se quer. E então, nem se dorme.



Ação, todos sabem, não vem do consciente.

O problema talvez seja, que poucos saibam traduzir o inconsciente.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Meu Santo Expedito...


Lembro deste trecho - na verdade nem sei se é bem assim.
"Meu Santo Expedito, das causas justas e urgente, socorrei-me nesta hora de aflição de desespero".

Foram muitas horas aflitas, sem calma, sem conforto.
A calma veio com a oração, o conforto com a fé no santo.
Aflição que se amenizava.

Pedia quando quem estava ao meu lado já não tinha mais forças e chorava.
Hoje, ela sorri.

Voltei a rezar quando uma outra - que amo tanto quanto a primeira - já não tinha forças de se alimentar.
A fé foi tanta, que a solda não precisou ser colocada. Ela comeu um prato de sopa - lembro-me como se fosse hoje.

Precisei pedir quando as finanças lá em casa não ia tão bem.
Quando a saúde de quem amo estava fragilizada.
A situação com dinheiro está melhor.
A saúde sendo cuidada.

Durante a oração tem um trecho assim:
"E levarei o seu nome a todos que tem fé".

Levo, compartilho minhas experiências, meus testemunhos. Com muito orgulho e propriedade. Hoje, devotos estão em festa. Estamos.

Muito obrigada, meu Santo Expedito.
"Serei grata, pelo resto de minha vida"

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Um tipo de mulher

Shorts bem curto. Blusa decotada, pra realçar o silicone: seu sonho é ser "paniquete".
Cabelo bem escorrido e preto, pra chamar atenção ao andar pelas ruas.
Da boca saem palavras indelicadas, objetivas, explícitas e direta ao ponto.
Algumas, prefiro não reproduzir, mas ouvi a mensagem: "Pega eu?" - E o tom não era de brincadeira, mas sim total intimidação.
Fala da sua elasticidade, sugerindo algo que possa ser interessante com alguém flexível.
Pede alto coisas que até para falar no ouvido exigiria uma grande intimidade com receptor e coragem do interlocutor.
Não chega, se joga.
É espaçosa. Talvez porque lhe falte espaço - os outros tampa-os para não tê-la por perto.
Precisa gritar, senão ninguém a ouve. Afinal, não tem o que falar.


Só descrevo, embora pareça que julgo.
Apenas me choca tal postura. Intriga-me este tipo de posicionamento.
Não existe certo ou errado. Bem ou mal.
Mas,
- Respeito é bom, há quem goste.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Inesperado (?)

Mais um trecho da experiência que está sendo, a aventura de se escrever um livro.

"Culpa de não ter ajudado. Aliás, sequer visto. Foi muito rápido.
Rápido, como muitos dizem que a vida passa.
Sem tempo para mais nada, quando a morte já se anuncia.
Antes, ela estava bem. Aliás, mais do que se é esperado para quem acredita que um diagnóstico de câncer, nada mais é, que o irreversível."

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Um trecho do livro. Conto com vocês

Comecei a escrever o livro-reportagem que será o meu Trabalho de Conclusão de Curso, da faculdade de Jornalismo da Puc-Campinas. O assunto trata de doentes graves, aqueles que já são tratados, apenas, com cuidos paliativos - só para não sentir dor. Apenas isso, se pode fazer neste estágio. Apesar do tem, não são eles os protagonistas das histórias.

Coloco aqui um trecho - que talvez nem vá para a publicação - até para que me ajudem a escrever histórias, não dos pacientes, mas da família que os acompanham - Eles também sofrem!

Vou ficar muito feliz, se me ajuderem comentando, com críticas sugestões e se tiver algo legal, flaem pois ai sei que caminho seguir.
Espero poder construir este "livro" (desculpem-me a pretensão de assim chamá-lo) junto com vocês.


Segue um rascunho.
Grata.

Histórias que se encontraria no hospital: Sequer precisa chegar lá.

Fora mesmo do ambulatório, olhos negros fitam pelas ruas. Os dela são bem escuros e ainda não refletem brilho. Atende por Renata e já apagou 32 velas. Hoje, é ela quem está como a vela após os parabéns.

Sofre por algo que já foi – pra quem está de fora, faz tempo. Para ela, está sendo. Há quatro anos, Renata ficou sem comer a comida mais gostosa, sem receber os conselhos mais sábios, e até perdeu o colo mais confortável. Sua mãe se foi.

Aqueles olhos negros ameaçam inundar. A esperança tenta manter-se boiando. E não é fácil. Vestida de camiseta, na qual um desenho animado está estampado. Uma mulher, ainda com resquícios de criança. Quer ainda, o leite. Precisa do seio.

Recorda-se apenas das dores que seu exemplo de mulher sentiu e do visível abalo psicológico que não conseguiu superar.

A mãe não teve tempo sequer de passar pelos estágios que a Elisabeth Kubbler esquematiza em seu livro. Teve tempo apenas de não acreditar, de não aceitar. 180 dias foram poucos para barganhar e tentar recuperar a saúde. Cortou caminho e já caiu na fase depressiva - o quarto estágio de um doente - que só se pode cuidar paliativamente. Restou-lhe aceitar. A filha não tem certeza dessa afirmação. O que se sabe é que a TV foi desligada.

Difícil fica, para aquele que fica. Renata prova o trocadilho. A doença que não teve cura, transformou-se numa falta também incurável.

A mãe que ficou sem sua mãe mantém os cabelos presos e nada de maquiagem para realçar. O jeans é básico e o salto não combina com seu estilo. Talvez, não queira aparecer, vai ver não tenha – ainda – o que mostrar.
Está necessitada. De ajuda? Há dúvida se alguém pode ajudar. De uma palavra? Receio que ninguém conheça. Ouvidos? Talvez, alguém possa escutar.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Segunda, terça, mas não posso falar da quarta.

Medo por ser desconhecido.
Insegurança por ninguém ter estado lá - ainda.
Dúvida pois sequer se sabe se está perto ou longe.
Frustração sabendo que tudo pode mudar.
Desespero já que assim passa, já pode estar nele.
Inquietação dada tanta ansiedade.
Receio de chegar lá pior do que quando estava no meio do caminho.

Assombra.
Tira o sono.
Sai do controle.

É o futuro...

E vamos falar das eleições indiretas...

Há tempo não falo de política. Não por falta de assunto, mas talvez por escassez de novidades. É certo que todo dia sai uma: uma como tantas outras. O solo é fértil e brota - nada de flores.
Todo dia um: o de sempre.

Hoje, algo acontece pela primeira vez:
Eleições indiretas! E pra prefeito de Campinas!

Os escolhidos escolherão...
E pra ser sincera não tenho medo das escolhas, mas das opções.

Não espero que carupaças sejam vestidas. Só desabafo, enquanto campineira, que gosta da cidade que nasceu.

domingo, 8 de abril de 2012

Páscoa

Sempre fui nas missas que antecedem a Páscoa.
Li a Bíblia para compreender o significado desta data.
A tristeza de antes, a alegria do Domingo.
As celebrações, a beleza da Igreja, a fé do cristão.
Este ano, não fui a missa: nem a de lava-pés, dos ramos, tampouco na via sacra da sexta-feira Santa.
Senti que fiz mais. Visitei quem precisava de uma visita, acompanhando um outro alguém que tinha muita vontade de visitar.
Jesus Cristo está onde mais de uma pessoa estiver.
Isso basta para senti-lo.


Estive. Ele também.

sábado, 7 de abril de 2012

Renovação

A ideia é pensar no novo: Vida nova, como se bastaria a novidade para ser melhor.
Só queria pedir para que todos se lembre dos velhos - sem nenhuma pejoração nesta palavra.
O velho ensina. Ele só, já aprendeu.
Renovar com os valores antigos, que os mais jovens perderam.
Olhar pros olhos deles.
Decifrar aquele tempo. Famílias grandes que vieram, fugindo da guerra na Europa, buscando uma vida melhor.
Do ciclo café, da adaptação da terra depois.
Tem gente já quase centenária. Em minutos aprendemos tanto, imagine o tanto de minutos eles não tiveram pra compreender?

Aprendi com quem sabe.
Sabe pelos livros - pela vida!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

No hospital

Quem precisava de ajuda, se colocou a minha disposição.
Aquele que não podia se sustentar de pé, se preocupou em me dar um lugar para sentar.
O que tinha motivos para lágrimas, sorria.
Os que tinham diagnóstico de que o tempo seria curto: não tinham pressa.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Morte

Na enfermaria clínica - onde o que resta fazer é dar conforto. Aliviar a dor.

Ouvi a palavra "trash" sair da boca do doutor.
A enfermeira falou de um futuro que se resumiria em "poucos dias".
O acompanhante revelou que o quadro clínico pode ser "nojento".

Sensíveis.
Humanos e conscientes.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Seríamos...


Porque em silêncio, eles pedem.
Internamente, gritam.
Nos chamam, a nos olhar.
Precisam, mas talvez tenham orgulho - Vergonha.

O silêncio não se ouve.
Apenas o externo é visível - infelizmente.
Olhares que se desviam.
Pode-se ajudar, no entanto intimida-se - e não é intencional.

As pessoas simplesmente se completam.

Só não compreenderam isto - ainda.

domingo, 1 de abril de 2012

Pouco

Feliz daquele que só espera: a presença.
Felicidade tem aquele de quem pouco exigem: o estar.

"Tudo que eu precisava fazer para alegrá-lo era chegar" (David Dosa).