sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A frustração de ser Jornalista


Sempre tive a certeza de que fiz a escolha correta: ser jornalista. Pode parecer precoce, mas a cada aula na faculdade elucida-se minha paixão pelo Jornalismo. Fora de classe, busco atividades na minha área, almejando experiências, prática e vivência. No rádio, na TV e no impresso, a satisfação é minha recompensa.

A mais recente realização profissional foi o projeto do documentário “Entre Tramas e Banzeiros”, que concluí semanas atrás. Exercitei o desenvolvimento de roteiros, a prática de decupar e a habilidade de editar, tudo isso narrado num cenário maravilhoso e indescritível: a Amazônia.
Lá, muitas coisas conheci, aprendi e presenciei. E também foi na região de Manaus que senti-me frustrada, decepcionada e e impotente.

Na função de jornalista, acompanhei colegas de faculdade em visitas a casas de comunitários. Foi-me revelada uma realidade simples, mas feliz. Feliz, mas nem sempre digna. Pessoas superiores, capazes de sorrir em meio a adversidade, porém que sofrem. Sofrimento evitável, mas que não se tenta evitar. Não há políticas públicas, não há Governo, apenas promessas.
Passei alguns dias em comunidades sem postos de saúde, sem escolas, sem luz, tampouco água. Foram cinco dias num local isolado, pouco lembrado, senão nos anos eleitorais. Presenciei momentos de dificuldades, que confortam-se na esperança, Vi de perto, problemas sociais, confortados pelo sonho. Ouvi sobre os dilemas. Escutei sobre precaridades.
Anotava os causos, as histórias. Muitas eram tristes, mas tinham o pranto, enxuto pela luta. Documentava a indignação daquelas pessoas, que se saciava pela união entre os comunitários. Enquanto isso a cinegrafista filmava. Oito horas de gravação. Insuficientes para encontramos uma solução.

Frustração. Decepção. Reduzia-me ao indiferente. Ao incapaz. Era jornalista, com uma boa pauta, um roteiro elaborado e uma expectativa promissora. Ao mesmo tempo, não era ninguém. Nada podia fazer, a não ser ouvir e ver. Contavam-me os obstáculos da vida ribeirinha, e com dor no coração, só podia dizer: “Sinto muito”, e ainda mais sem graça, agradecia o depoimento.

Orgulho-me de minha profissão, mas sinto-me infeliz com a restrição do simples ato de informar. O Jornalismo, embora relutem, também tem poder fiscalizador e deveria encontrar as saídas. Tenho a ciência da importância da imparcialidade, o que implicaria no não envolvimento dos fatos. Mas ficaria muito mais feliz, se além de relatar, encontrasse uma solução. Se além de noticiar, resolvesse.

Cheguei a questionar-me, o porquê de fazer Jornalismo, se sequer posso dividir com meu próximo uma vida digna. Se sou incapaz de melhorar a vida daqueles que carecem.
O conforto desta frustração vem com texto jornalístico. Uma escrita difícil, que trata de casos ainda mais complicados. Palavras ordenadas que precisam passar, sem parcialidade, a situação tratada. Se não posso fazer, escrevo. E nessa escrita, procuro no mínimo sensibilizar. Sensibilizar, aquele que é capaz de fazer.

Meu único temor, peca pela generalização, a medida que enxergo nossos políticos, os únicos capazes e responsáveis pelas condições básicas dos cidadãos, como pessoas insensíveis. Uma insensibilidade envolta em ironia, cinismo e máscaras, guardadas em meias e cuecas.

Representantes sem sensibilidade, obrigam profissionais sem responsabilidade social, ir além das funções exigidas no cargo. E é isso que pretendo fazer. Em breve, espero trazer novidades, através das quais, além da informação, esteja apta ao auxílio e a algumas soluções.

5 comentários:

  1. Não precisa nem ser jornalista para saber como é...
    Isso é consequência da típica inutilidade existente na política. Não só na política como em qualquer lugar. Afinal, se todos nós, seres humanos, assumíssemos nossos compromissos como deveríamos, ninguém passava fome, ninguém passava necessidade... Toda a riqueza seria partilhada igualmente. E riqueza geral, não somente ouro e prata.
    Parabéns pela escolha, e que você sempre possa se destacar em sua profissão!
    Um abraço.

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  2. Adorei a primeira parte do texto, os cinco primeiros parágrafos. Mas discordo na parte "política", do "fazer", nos parágrafos seguintes.

    Não são os políticos que fazem a política, eles só representam a sociedade civil e os interesses que dela emanam. Não podem eles ter a pretensão de apontar soluções, pois essa não é sua função, mas de toda sociedade. É dos intelectuais, dos estudantes, dos profissionais liberais, dos sindicatos, das ONGs, dos empresários... até da pessoa pequena que se julga impotente; é a função deles apontar as soluções e fazer política.

    Entretanto, infelizmente, em nosso país poucos fazem política. A classe média não quer cidadania, quer privilégios, e está encantada com o "consumo da felicidade", enquanto os excluídos pouco fazem, pois não conhecem os caminhos ao seu alcance. Só umas poucas empresas fazem política, e o resto segue. Seguem suas "reformas", refletem sobre os números e problemas que divulgam.

    Um documentário assim, independente (não sei até que ponto essa palavra pode ser utilizada), é um fazer. É criar um chamado a sociedade civil para que cumpra sua função maior, sua função legítima. O jornalista não pode se dar ao luxo de se sentir impotente, pois é peça fundamental para quebrar estruturas arcaicas e gerar novas dinâmicas.

    Esperar que alguém faça algo sozinho, isolado em um altruísmo e capacidade maiores, é exatamente o pensamento que precisa ser superado. A boa notícia é que temos pessoas como Duarcides, Alfredo e Leando, como Nelson e Viridiana, e agora como Gláucia e um punhado de novas pessoas, que estão conscientes e podem apontar soluções.

    Algo é feito, mesmo que não seja possível entregar resultados de imediato para os entrevistados na solução de seus problemas, e garanto que eles, mesmo não compreendendo racionalmente a dimensão do que são chamados a participar, percebem de imediato que outros estão atentos à suas existências, e, talvez, isso seja mais importante do que a eletrificação do São João ou um novo posto de saúde no Julião.

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  3. Marxin agradeço seu comentário, você aborda pontos importantíssimos como a inutilidade e responsabilidade. Temos que assumir nossos compromissos, independente de nossa área de atuação. Temos que ser seres humanos. Temos que votar, e essa é uma grande responsabilidade, que muitas vezes, sob argumento de inutilidade, já que é "tudo farinha do mesmo saco" e que "nada muda", faz com a gente se torne grandes irresponsáveis, e depois só jogue a culpa nos nossos políticos.
    Gostei da sua análise =)
    Agradeço os votos =)
    Abraço

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  4. Luquinha, agradeço muito sua contribuição. Adoro críticas, pois só elas podem me ajudar a melhorar, e sempre fazem com que repense meus conceitos, reflita se eles de fato se validam, agora vamos a discussão:

    Se não são os políticos que devem fazer política, então a primeira medida que devemos tomar, é mudar a denominação de tais.
    Ao que diz respeito a nós cidadãos, sociedade, concordo que temos sim muitas responsabilidades, sendo uma delas a eleição. Somos os responsáveis por eleger aqueles que nos representam (veja só o grau dessa responsabilidade, tanto pra nós que escolhemos como para eles que são escolhidos). Dado isso, a culpa de fato não é só dos políticos, mas também de muitos de nós, que não sabemos votar, erramos na hora da escolha.

    Para ser bem sincera, antes de dormir, fico pensando em algumas soluções aos obstáculos e dificuldades que presenciamos por aí, e elas sempre aparecem. Da mesma forma, tenho certeza que muitos intelectuais, estudantes, ONGs,sindicatos e etc, tem muitas soluções para nossos problemas.
    A mais simples das pessoas, é capaz de mostrar um caminho para solucionar algo que está errado, sabe direitinho, o que pode tirá-la de alguma situação adversa.

    O problema é que temos a solução, mas não o poder.
    Pagamos impostos, mas não temos a chave dos cofres públicos.

    Você tem toda razão quando diz que as pessoas carecem de fazer política, mas esquece de ressaltar, quantos fazem politicagem por aí...

    Fala que os excluídos não conhecem o caminho ao alcance deles, mas não trata esse desconhecimento. Não conhecem por falta de vontade, o por que os incluídos temem o conhecimento e omitem o que poderia ser melhor? Ou as vezes esse caminhos ao alcance não são atrativos suficientes, não rumam a uma vida digna. Ninguém nos ensina o melhor e mais curto desvio, simplesmente nos jogam nas trilhas fechadas, e repletas de pedras pelo caminho.

    Em relação ao Jornalismo, entendo sua colocação, assim como conheço a importância do profissional jornalista, numa sociedade livre e democrática. Somos sim (e já me incluo, sem pretensões, como jornalista) peça fundamental, não só para quebrar velhas estruturas, o que confesso, acho que não é dom do Jornalismo, mas sim para dar voz àquele que não se dá ouvidos, garantindo a liberdade de expressão, revelando mazelas, denunciando escândalos, e claro dando as boas notícias! (Cont)

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  5. Cont) Nesse texto revelei que antes de ser Jornalista, eu sou ser humano, que zela pelas batidas do coração. A racionalidade que informar, mas o lado emocional quer ir além, sente a necessidade de ajudar.
    No pouco tempo que passamos juntos, você deve ter percebido minha ansiedade, porém revelo-lhe que além de ansiosa, fico indignada com dada frequência.
    Ali, só podia documentar, e não sabia como revelar isso as pessoas: "Vim aqui para conhecer a situação de vocês, mas não posso fazer nada para alterá-la". Sentia-me cínica, como se tivesse sentada nas poltronas teatrais assistindo uma peça, na qual ora ria com a comédia, ora chorava com o drama, e no final, o máximo que faria era aplaudir.

    Eu acredito, e luto junto com pessoas como Nelson, Alfredo, Duarcides, Leandro, Veridiana e você, que abraçam uma causa, e a defende com muito mérito. Admiro a vontade e tenho a certeza de sua importância e relevância. Mas não me esqueço que nem todos os brasileiros têm vida digna e cidadã, da mesma forma que não ignoro, os dinheiros escondidos em meias e cuecas.

    Maria da Glória nos revelou o sentimento de morar numa comunidade esquecida. Ela entristeceu-se nesta hora. Nos revelou que todos os dias alunos, pesquisadores e professores vão lá, buscam informação, iniciam pesquisas, e no fim nunca mais aparece. Ela está cansada, embora saiba que tem muita gente com bom coração. Quando criança, leis ambientais fizeram sua família passar fome, pois seu pai pescou em local proibido, e teve seus únicos instrumentos apreendidos. Nessa hora, ela chorou, e pediu que desligássemos a câmera.
    Sentir-se importante, lembrado é sempre muito bom, sempre nos alegra... O difícil é dar valor a lembrança de alguém, quando a estômago ronca de fome, e a malária assola como a gripe nos resfria...

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