terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Amazônia é nossa! Estamos dando-a de presente?


“Mãe, vou para Amazônia!” O susto na face de minha progenitora era mais do que visível. Sorriu-me, achando que aquilo era uma piada, ou a simples ilusão de uma jovem sonhadora.
No entanto, eu falava sério, como nunca antes havia imposto um desejo, aliás uma necessidade. Antes de querer viajar para Amazônia, eu precisava conhecer aquela região. A experiência seria exclusivamente profissional, bem como o enriquecimento. O ganho pessoal seria mera consequência, que até então, não me parecia tão relevante.
Demorou para que meus pais assimilassem a viagem. Está certo, que mesmo para mim, parecia exótico ir até lá. Eu, que nunca, havia sequer feito uma trilha no bosque de minha cidade, com pretexto de que “mato” despertava reações alérgicas em meu organismo. Porém, por que não começar em grande estilo? Nada mais pretensioso do que uma estréia em plena floresta amazônica.
Meus familiares tiveram seis meses para se adaptarem com a ideia e aceitar que a filhinha viajasse para a floresta, cercada de índios, vigiada por bichos, velada por mosquitos.

Dividia com meus colegas, minha ansiedade de conhecer o Estado Amazonas. “Nas féria vou para Amazônia!”, eu dizia, orgulhosa. A expressão de espanto era praxe: “Amazônia?”, relutavam.
Todos se preocupavam, recomendando o uso de muito repelente, o cuidado com a ingestão de alimentos, bem como de água, sempre me alertando sobre as onças e cobras amazonenses.
Isso tudo me assustava, assumo. Sentia-me partindo para um outro planeta, inabitável, a não ser pelas araras e pássaros coloridos.
Apesar de todas as adversidades que me foram apresentadas, arrisquei-me. De Campinas, parti para Manaus.

No Estado amazonense, compreendi as alertas que para mim foram acionadas. Alertas desreguladas, típicas da desinformação. As pessoas diziam-me aquilo, simplesmente porque desconheciam o que falavam. Regadas por um pré-conceito, sustentadas por uma imagem mítica, muitos brasileiros restringem a região amazonense à Floresta Amazônica, numa ignorância que inibe as tradições culturais, e reprime a diversidade de nosso país.
Brasileiros que gritam “A Amazônia é nossa”, mas sequer a conhecem, tampouco tem vontade ou coragem de vistar a bela região. Brasileiros que estufam o peito ao dizer que a Amazônia é brasileira, mas sequer conhecem o povo, as tradições daquele local. Um Brasil “dono” da Amazônia, que de longe tenta administra-la, sem saber de suas peculiaridades, sem ter curiosidade de desvendá-la. A Amazônia do Brasil, que não recebe brasileiros. Brasileiros que têm em seu territória a maior floreta tropical do mundo, mas preferem cruzar fronteiras, e conhecer locais muito menos densos, muito menos diversos.
Enquanto isso estrangeiros deliciam-se em nossa Amazônia, divertem-se com a cultura local, encantam-se com as belezas naturais. Gringos impregnam comunidades amazonenses, e entopem a já intransitável Manaus. Enquanto isso, os conterrâneos sequer têm uma imagem lúcida da região, e o que é mais triste, sequer se esforçam para desmitificá-la.

“A Amazônia é nossa!”, orgulham-se os brasileiros. Um orgulho ferido, que embrulha, e aos poucos presenteia gringos, que a cada viagem, conhecem uma parte peculiar de nossa floreta, aliás, de nosso Estado Amazonas, que tanto falamos, mas muito pouco conhecemos.

Um comentário:

  1. Sou amazonense e muito me orgulha saber que uma jovem do sudeste, resolveu deixar os preconceitos de lado e viver a experiência de viajar e conhecer um pouco da Amazônia.
    Como amazônida sinto na pele tudo o que você narrou. Quando viajo para o sudeste "maravilha" e digo que sou do Amazonas, parece que falei grego ou sou de outro planeta. Chegam ao disparate de me perguntarem como cheguei até lá - ironicamente respondo que foi de canoa ou a nado kkkkkk . É realmente lamentável que uma região tão rica de natureza, seja tão desconhecida pela maioria dos brasileiros.
    Artigos como o seu, servem pelo menos para dar uma luzinha no fim do túnel. Valeuuuuu!

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