sábado, 13 de fevereiro de 2010

A infância na Amazônia


Pode parecer nostalgia, saudade precoce, ou medo do que vem pela frente. Mas, de um tempo para cá, muito tenho falado da infância, muito têm me encantado as crianças.

Na Amazônia não foi diferente. Em visita a RDS do Tupé, à 25 km de Manaus, constatei comunidades humildes, com famílias grandes, com muitos adultos e várias crianças, e uma certa escassez de jovens, isso porque, trata-se de uma juventude que acredita num futuro melhor, e atrás desse sonho, deixa seus familiares e sua comunidade levando consigo sonhos, numa busca incansável por oportunidades. Vão para Manaus, onde há escola e melhores condições de trabalho. Necessidades básicas que no Tupé, rareiam.
Enquanto eles vão, uma nova geração cresce, e não tarda seguirem o mesmo destino: Manaus. Nascido na comunidade, torna-se jovem na capital, mas sempre volta ao berço, mesmo depois de conhecer a cidade grande.
“Manaus é muito quente”, argumentam.
“Aqui no Tupé é melhor, apesar de tudo”, revelam.

Isso fica claro ao vermos as crianças. O Tupé, deve ser sim, muito, “apesar de tudo”. O sorriso é permanente na face da molecadinha, assim como a simplicidade e ingenuidade. Garotos que jogam bola e confessam o sonho de jogar na seleção. Meninas que brincam de casinha, mesmo sendo essa, sem utensílios domésticos. Crianças que colorem os corpos, com frutinhas que soltam as tintas da natureza. Garotas e meninos que recebem-nos de forma muito afetuosa, não por carência, mas pela vontade de fazer novos amigos, que mais tarde irão brincar de pega-pega com eles.

O primeiro garoto foi o Marcelo, sorriso grande, olhos curiosos, corpinho de serelepe e um jeitinho que amolece o coração e fez com que eu lhe emprestasse minha câmera, mesmo sabendo do risco que máquina correria. O típico moleque que anda de descalço e com um único abraço levou-me ao chão. Literalmente.

Conheci também a Gabrieli. Pequenina e delicada, como uma princesa dos contos. Sorriso banguela, pés e mãos sujinhos de brincar na terra. Recebeu-me com um beijo, e logo sugeriu que eu experimentasse um frutinha vermelha, dividindo a que vinha em seus braços comigo. Gabi, não se importou em ficar com o menor pedaço.

Teve ainda o Rogério, timidamente encantador e a garotinha da bala de Cupuaçu, que mesmo com a toquinha de preparar os doces, abandonou a cozinha da comunidade e veio ao meu encontro.

Conheci crianças que me ensinaram a cuidar de uma plantinha medicinal e a dar valor a muitas coisas que até então, eu não percebia. Fiz amizade com meninas e meninos de uma criatividade invejável, a ponto de improvisarem brinquedos com aquilo que Deus nos deu, e serem extremamente felizes com tais.
Conheci uma infância sem acesso a Internet, mas que sabem como poucos transmitir a alegria de ser criança. Capazes, inclusive, de nos contagiar com ela.

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