Na quarta-feira de Cinzas, inicia o tempo quaresmal, que sucede a Páscoa. A quaresma é um tempo de reflexão e também de penitência. Junto com este período de quarenta dias, inicia-se a liturgia, regida pela Campanha da Fraternidade.
O tema da Campanha da Fraternidade 2010 é “Economia e Fraternidade”, com o lema “Vós não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” O tema é pertinente, num mundo globalizado e capitalista, que recentemente passou por uma crise, regada à recessão. A mensagem litúrgica surge como boa oportunidade para praticar o desapego perante os bens de consumo, valorizando muito mais o “ser”, do que o “ter”.
Sabe-se que o homem torna-se escravo perante à avareza. É certo que o dinheiro não é um mal, pelo contrario, serve como instrumento de troca, o que deveria facilitar o câmbio, as relações comerciais. No entanto, a moeda de valor afasta das pessoas um sentimento de solidariedade, bem como o espírito de partilha, a medida que cria sujeitos individualistas e por consequência egoístas. Isso tudo, reflete numa sociedade bastante desigual, na qual, como afirma o Diácono José Antônio Jorge, “uns se afogam no supérfluo, enquanto outros miseráveis não têm o mínimo para um vida digna.”
Seguir a Palavra Divina pressupõe abrir mão de muitas práticas mundanas, e este ano a Campanha Fraternidade coloca-nos um ponto crucial: como abrir mão do dinheiro, numa sociedade regida pelo poder de compra? Renunciar à moeda, significa a renúncia ao poder, num mundo em que a competição é acirrada, e o egocentrismo esquece das palavras divinas: “Amar o próximo como a si mesmo.”
Servir Deus ou Dinheiro, lembra-me a berlinda da escolha entre o pai e a mãe. Confesso que sinto-me culpada por pensar assim. Sinto-me fraca e dominada pelo capital. Dividida entre àquele que me criou, e aquele que quer me destruir. Deus nosso Pai, que nos ensina sem cobranças. O dinheiro que cobra, sem nos ensinar.
Apesar de católica e frequentadora da Igreja, poucas vezes parei para ler a Bíblia, conhecendo a Palavra do Livro Sagrado, apenas pelo sermão do Padre ou a instrução de catequistas.
O capital faz parte de nosso cotidiano, abandoná-lo é abdicar a vida como a sociedade ostenta. A grande questão é que não podemos tornar-nos dominados pela moeda, nem colocá-la acima de nossos irmãos, do próximo. O dinheiro deve facilitar, mas jamais substituir. Entre Deus e o dinheiro, o mais emocional e digno é optar pelo Pai, embora racionalmente, muitos não oscilassem escolher o dinheiro. Deve haver um equilíbrio, no qual o dinheiro compre o necessário, e seja uma ferramenta para prática de solidariedade, caridade e partilha. Não o contrário.
Deus está sempre com a gente, amamos-o acima de tudo e de todos, é incontestável. O lema faz reavaliar conceitos, reanalisar costumes. O que vale mais uma nota de cem, ou o conforto de termos um ser Supremo, que tantas coisas belas criou?
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