Em “Fama e Anonimato” Gay Talese ensina-nos um novo Jornalismo, trançando a realidade, desvendo o real, noticiando o que não seria notícia no jornal tradicional. Mais que uma literatura, o relato de Talese revela, mostra e elucida: nas ruas estão as melhores pautas, nas calçadas os melhores assuntos, nos portões as mais preciosas fontes.
Caminhar pela cidade, extrapola as fronteiras teóricas da faculdade, proporcionando belas aulas práticas, numa vivência prazerosa e enriquecedora. A cada esquina uma novidade. Em cada faixa de pedestre uma pauta.
No ponto, aguardar o ônibus que não vem, além de cansativo é preocupante. Olhares no relógio anunciam a pressa, alertando o atraso. Com fones de ouvindo, as pessoas sequer se olham, fitando apenas a rua, na espera ansiosa da condução.
O trânsito se intensifica, enquanto nas calçadas, pessoas se aglomeram. Umas chegam, outras partem. Algumas simplesmente caminham. De manhã uns vão ao trabalho, ao colégio ou faculdade, cruzando com senhoras e senhores que simplesmente rodeiam por ali, acompanhadas pelo melhor amigo do homem, que precisa fazer as necessidades.
De pé, sob a placa “Ponto de ônibus”, começava a olhar para o relógio, dado o atraso do transporte coletivo. Conversas fazem com que o tempo passe mais rápido, e de forma mais gostosa, porém com os Ipods, cada um isola-se em seu “mundinho”, com trilhas sonoras que variam do sertanejo à eletrônica.
São nas horas de descrença que descobrimos o valor e voltamos a acreditar. Decepcionada com as relações entre as pessoas, a falta de contato pessoal, fui surpreendida com um belo cachorrinho, aparentando velhice, embora ainda houvesse força para levar seu dono para um passeio matinal. Dono esse, das antigas, que não dispensa um bom dia, e presenteia o nascer do sol com um sorriso. E também presenteou-me com tal. Cumprimentou-me num sorriso, já envolto a rugas e muita experiência. Senhor aperfeiçoado, bem vestido, guiado por seu cão. Junto a cordialidade fez-me um pedido: “A senhora tem cartão telefônico vazio?”. Curioso e surpreendente tratar-me como “senhora”, da mesma forma que fiquei surpresa com o pergunta. Não tinha o cartão, mas para aquele senhor não tinha importância. Logo resolveu a questão: “Então, quando a senhora tiver, me ligue”, passando-me na sequência seu número telefônico. A alegria e a expectativa de receber o cartão foi contagiante. Num belo abrir de lábios, desejou-me boa semana.
Ainda na espera, atentei-me a lucidez das pessoas ali no ponto, e percebi uma ignorância sentida. No entanto, o senhor “colecionador de cartões de telefone” que, talvez lembre-se apenas de seu passado, acometido por doenças da velhice, fez-me voltar a crer no homem. Acreditar nas relações de afeto, no respeito e na educação.
A lucidez da individualidade, aliada a virtualidade das relações não nos faz esquecer nomes, fatos importantes da vida, porém não garante a percepção, tampouco a valorização dos laços com o próximo. As pessoas se afastam. E o ônibus não vem. As pessoas não se olham. E ainda aguardam a chegada da condução. Parado o ônibus, sente-se o calor humano, num empurra-empurra lúcido, sem considerar a senhora que está de pé, ou grávida com os pés inchados.
Antes um Universo de “loucos”, sem caráter pejorativo a palavra, que um mundo lúcido. A lucidez nos alienia, e como consequência fasta-nos. Somos lúcidos, mas insensíveis. Além do mais, do que vale a lucidez, quando, ao que parece, perdemos-a nos momentos mais importantes de nossa vida? Nas eleições, por exemplo, é visível a escassez de pessoas lúcidas, bem como a falta de memória dos eleitores, que ano após ano, erram. Pecando por insistir neste erro.
Quem esquece ou ignora o desejo de um bom dia, não tem sensibilidade para eleger um representante, quem dirá representar. Fico com os não lúcidos, que ao menos alegram o dia com seu sorriso.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Objeto de segunda: são só garotos
No Congresso do PT, Dilma Rousseff foi lançada pré-candidata à Presidência. Muitas marchinhas embalaram a cerimônia, muita troca de elogios, sedas rasgadas, ostentações trocadas. No painel, o “cara” e a “coroa”, sob o slogan: “Com Dilma, pelo caminho Lula que nos ensinou”.
Dilma já dançou com a vassoura, e esforça-se para entrar no “reboletion”. Dilma é a escolhida. Escolhida em meio ao vazio.
Rousseff é ministra. Uma ministra que também é mãe, já foi filha, e logo será avó. Dilma é mulher. E a mulher, segundo o nobre presidente Lula “ainda é tratada como se fosse objeto de segunda classe.”
Nós, mulheres, já fomos chamadas de sexo frágil. Nos proibiram de votar, e mesmo de trabalhar. Trancafiadas no lar, éramos simples amélias. Vivíamos escondidas, entre panos de roupas e janelas entreabertas. Nos inferiorizavam, sob a máscara da proteção. Fomos submissas, mas jamais dominadas. Os homens eram a cabeça da casa, e a mulher sempre foi e será o coração.
Tímidas, mais com coragem, conquistamos direitos de cidadãs, e além de termos responsabilidades em eleger, muitas de nós, são eleitas. Trabalhamos em casa, ao mesmo tempo que somos aptas a exercer funções fora do lar. E exercemos bem. Tão bem quanto os homens, ou muito melhor que tais. Sem esconderijos, aparecemos na sociedade, e muitas ocasiões, roubamos a cena. Nem abaixo, tampouco atrás. Desfilamos ao lado do sexo oposto. Nunca fomos dominadas, e já ameaçamos dominar.
Não quero polemizar, muito menos ser feminista, porém prezo por minha franqueza e divido com vocês minha íntima percepção: Não vejo homens como preconceituosos, mas sim como medrosos, sem que isso represente uma ofensa aos rapazes. Não é preconceito, é temor. Medo de perder espaço. Temor de tornar-se o sexo frágil. As mulheres ainda ganham menos que os homens, porém a cada dia que passa, protagonizam cargos de liderança e chefia, comprometendo a imponência masculina.
Os homens mais espertos, já aprenderam a cozinhar e não relutam em cuidar das crianças, afinal todos sabem que garotos “perto de uma mulher, são só garotos.”
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
A frustração de ser Jornalista
Sempre tive a certeza de que fiz a escolha correta: ser jornalista. Pode parecer precoce, mas a cada aula na faculdade elucida-se minha paixão pelo Jornalismo. Fora de classe, busco atividades na minha área, almejando experiências, prática e vivência. No rádio, na TV e no impresso, a satisfação é minha recompensa.
A mais recente realização profissional foi o projeto do documentário “Entre Tramas e Banzeiros”, que concluí semanas atrás. Exercitei o desenvolvimento de roteiros, a prática de decupar e a habilidade de editar, tudo isso narrado num cenário maravilhoso e indescritível: a Amazônia.
Lá, muitas coisas conheci, aprendi e presenciei. E também foi na região de Manaus que senti-me frustrada, decepcionada e e impotente.
Na função de jornalista, acompanhei colegas de faculdade em visitas a casas de comunitários. Foi-me revelada uma realidade simples, mas feliz. Feliz, mas nem sempre digna. Pessoas superiores, capazes de sorrir em meio a adversidade, porém que sofrem. Sofrimento evitável, mas que não se tenta evitar. Não há políticas públicas, não há Governo, apenas promessas.
Passei alguns dias em comunidades sem postos de saúde, sem escolas, sem luz, tampouco água. Foram cinco dias num local isolado, pouco lembrado, senão nos anos eleitorais. Presenciei momentos de dificuldades, que confortam-se na esperança, Vi de perto, problemas sociais, confortados pelo sonho. Ouvi sobre os dilemas. Escutei sobre precaridades.
Anotava os causos, as histórias. Muitas eram tristes, mas tinham o pranto, enxuto pela luta. Documentava a indignação daquelas pessoas, que se saciava pela união entre os comunitários. Enquanto isso a cinegrafista filmava. Oito horas de gravação. Insuficientes para encontramos uma solução.
Frustração. Decepção. Reduzia-me ao indiferente. Ao incapaz. Era jornalista, com uma boa pauta, um roteiro elaborado e uma expectativa promissora. Ao mesmo tempo, não era ninguém. Nada podia fazer, a não ser ouvir e ver. Contavam-me os obstáculos da vida ribeirinha, e com dor no coração, só podia dizer: “Sinto muito”, e ainda mais sem graça, agradecia o depoimento.
Orgulho-me de minha profissão, mas sinto-me infeliz com a restrição do simples ato de informar. O Jornalismo, embora relutem, também tem poder fiscalizador e deveria encontrar as saídas. Tenho a ciência da importância da imparcialidade, o que implicaria no não envolvimento dos fatos. Mas ficaria muito mais feliz, se além de relatar, encontrasse uma solução. Se além de noticiar, resolvesse.
Cheguei a questionar-me, o porquê de fazer Jornalismo, se sequer posso dividir com meu próximo uma vida digna. Se sou incapaz de melhorar a vida daqueles que carecem.
O conforto desta frustração vem com texto jornalístico. Uma escrita difícil, que trata de casos ainda mais complicados. Palavras ordenadas que precisam passar, sem parcialidade, a situação tratada. Se não posso fazer, escrevo. E nessa escrita, procuro no mínimo sensibilizar. Sensibilizar, aquele que é capaz de fazer.
Meu único temor, peca pela generalização, a medida que enxergo nossos políticos, os únicos capazes e responsáveis pelas condições básicas dos cidadãos, como pessoas insensíveis. Uma insensibilidade envolta em ironia, cinismo e máscaras, guardadas em meias e cuecas.
Representantes sem sensibilidade, obrigam profissionais sem responsabilidade social, ir além das funções exigidas no cargo. E é isso que pretendo fazer. Em breve, espero trazer novidades, através das quais, além da informação, esteja apta ao auxílio e a algumas soluções.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Na época do Ensino Médio...
Hoje é dia do Ensino Médio no Brasil. Poderia publicar aqui dados, números que mostrem a realidade deste nível escolar. No entanto, a matemática é racional demais, e não tenho muita simpatia pelas áreas exatas. Falar da educação, é falar de pessoas, o que exige humanismo e uma pitada de emoção.
Para dar esse tom mais particular, divido com vocês a experiência que tive em 2008.
Sempre estudei em colégios particulares de Campinas, mas a instabilidade da vida fez com que, no último ano do Ensino Médio, conhecesse a realidade da Rede Pública de Ensino.
O primeiro dia foi de choro. Ficou explicita a realidade da escola, estando visível as dificuldades, os obstáculos e empecilhos, que nós, alunos de escolas públicas, enfrentaríamos. Vestibular parecia-nos uma ilusão, ou um belo, mas longínquo sonho. A solução seria estudar por conta. Dedicar de cabeça nos estudos. Porque depender do Governo, sabe como é...
Recebemos do Estado, parte do material escolar: pasta, canetas, lápis e cadernos. Para “incrementar” o conteúdo dos livros, as disciplinas ganhavam um jornal com conteúdo atrasado, e alguns exercícios, os quais continham muitos erros, ambiguidades e incompreensões. Passado o jornal, começamos a receber revistas de atualidade da Abril. Os exemplares chegavam a nós, após meses empacados nas bancas, tornando-se um grande livro de desatualidade, comprovando o atraso da rede pública.
Não tínhamos acesso a Internet e as instalações eram precárias, com risco inclusive, de desmoronar.
Preciso ressaltar que a escola pública que estudei, por privilégio, era referência na região de minha cidade, porém, naquele ano, o governo iniciou uma política de nivelação, e como é praxe em nosso país, nivelou-se por baixo.
Lá conheci as políticas que “beneficiam” a população menos favorecida. Infelizmente, não fiquei craque nos logarítimos, nem capaz de diferenciar as rochas, porém aprendi a superar dificuldades e encará-las de frente.
Tornei-me cidadã, com desejo de melhorar e com disposição para lutar. Naquela escola, de ensino inferior deixei minha contribuição, e tive colegas que contribuíram com parceria e reciprocidade. Participante da Comissão de Alunos, aproximei-me da política, enxerguei possibilidades, pressionei órgãos públicos e vi de perto muitas falcatruas.
Conheci uma nova juventude, que antes de prestar vestibular, precisava trabalhar. Jovens que poderiam não ganhar a vaga na Universidade, mas tinham um belo exemplo de vida para relatar. Moços e moças que conhecem as dificuldades e por isso valorizam momentos simples de calmaria. Sabem dos obstáculos e estão dispostos a superá-los.
Conheci professores, que embora não tenham recursos suficientes para dar uma boa aula, estavam sempre a disposição dos alunos, e na maneira do possível, ignoravam o cronograma chulo do governo, tornando as aulas mais dignas, e muito mais enriquecedoras.
Para dar esse tom mais particular, divido com vocês a experiência que tive em 2008.
Sempre estudei em colégios particulares de Campinas, mas a instabilidade da vida fez com que, no último ano do Ensino Médio, conhecesse a realidade da Rede Pública de Ensino.
O primeiro dia foi de choro. Ficou explicita a realidade da escola, estando visível as dificuldades, os obstáculos e empecilhos, que nós, alunos de escolas públicas, enfrentaríamos. Vestibular parecia-nos uma ilusão, ou um belo, mas longínquo sonho. A solução seria estudar por conta. Dedicar de cabeça nos estudos. Porque depender do Governo, sabe como é...
Recebemos do Estado, parte do material escolar: pasta, canetas, lápis e cadernos. Para “incrementar” o conteúdo dos livros, as disciplinas ganhavam um jornal com conteúdo atrasado, e alguns exercícios, os quais continham muitos erros, ambiguidades e incompreensões. Passado o jornal, começamos a receber revistas de atualidade da Abril. Os exemplares chegavam a nós, após meses empacados nas bancas, tornando-se um grande livro de desatualidade, comprovando o atraso da rede pública.
Não tínhamos acesso a Internet e as instalações eram precárias, com risco inclusive, de desmoronar.
Preciso ressaltar que a escola pública que estudei, por privilégio, era referência na região de minha cidade, porém, naquele ano, o governo iniciou uma política de nivelação, e como é praxe em nosso país, nivelou-se por baixo.
Lá conheci as políticas que “beneficiam” a população menos favorecida. Infelizmente, não fiquei craque nos logarítimos, nem capaz de diferenciar as rochas, porém aprendi a superar dificuldades e encará-las de frente.
Tornei-me cidadã, com desejo de melhorar e com disposição para lutar. Naquela escola, de ensino inferior deixei minha contribuição, e tive colegas que contribuíram com parceria e reciprocidade. Participante da Comissão de Alunos, aproximei-me da política, enxerguei possibilidades, pressionei órgãos públicos e vi de perto muitas falcatruas.
Conheci uma nova juventude, que antes de prestar vestibular, precisava trabalhar. Jovens que poderiam não ganhar a vaga na Universidade, mas tinham um belo exemplo de vida para relatar. Moços e moças que conhecem as dificuldades e por isso valorizam momentos simples de calmaria. Sabem dos obstáculos e estão dispostos a superá-los.
Conheci professores, que embora não tenham recursos suficientes para dar uma boa aula, estavam sempre a disposição dos alunos, e na maneira do possível, ignoravam o cronograma chulo do governo, tornando as aulas mais dignas, e muito mais enriquecedoras.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Campanha da Fraternidade 2010
Na quarta-feira de Cinzas, inicia o tempo quaresmal, que sucede a Páscoa. A quaresma é um tempo de reflexão e também de penitência. Junto com este período de quarenta dias, inicia-se a liturgia, regida pela Campanha da Fraternidade.
O tema da Campanha da Fraternidade 2010 é “Economia e Fraternidade”, com o lema “Vós não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” O tema é pertinente, num mundo globalizado e capitalista, que recentemente passou por uma crise, regada à recessão. A mensagem litúrgica surge como boa oportunidade para praticar o desapego perante os bens de consumo, valorizando muito mais o “ser”, do que o “ter”.
Sabe-se que o homem torna-se escravo perante à avareza. É certo que o dinheiro não é um mal, pelo contrario, serve como instrumento de troca, o que deveria facilitar o câmbio, as relações comerciais. No entanto, a moeda de valor afasta das pessoas um sentimento de solidariedade, bem como o espírito de partilha, a medida que cria sujeitos individualistas e por consequência egoístas. Isso tudo, reflete numa sociedade bastante desigual, na qual, como afirma o Diácono José Antônio Jorge, “uns se afogam no supérfluo, enquanto outros miseráveis não têm o mínimo para um vida digna.”
Seguir a Palavra Divina pressupõe abrir mão de muitas práticas mundanas, e este ano a Campanha Fraternidade coloca-nos um ponto crucial: como abrir mão do dinheiro, numa sociedade regida pelo poder de compra? Renunciar à moeda, significa a renúncia ao poder, num mundo em que a competição é acirrada, e o egocentrismo esquece das palavras divinas: “Amar o próximo como a si mesmo.”
Servir Deus ou Dinheiro, lembra-me a berlinda da escolha entre o pai e a mãe. Confesso que sinto-me culpada por pensar assim. Sinto-me fraca e dominada pelo capital. Dividida entre àquele que me criou, e aquele que quer me destruir. Deus nosso Pai, que nos ensina sem cobranças. O dinheiro que cobra, sem nos ensinar.
Apesar de católica e frequentadora da Igreja, poucas vezes parei para ler a Bíblia, conhecendo a Palavra do Livro Sagrado, apenas pelo sermão do Padre ou a instrução de catequistas.
O capital faz parte de nosso cotidiano, abandoná-lo é abdicar a vida como a sociedade ostenta. A grande questão é que não podemos tornar-nos dominados pela moeda, nem colocá-la acima de nossos irmãos, do próximo. O dinheiro deve facilitar, mas jamais substituir. Entre Deus e o dinheiro, o mais emocional e digno é optar pelo Pai, embora racionalmente, muitos não oscilassem escolher o dinheiro. Deve haver um equilíbrio, no qual o dinheiro compre o necessário, e seja uma ferramenta para prática de solidariedade, caridade e partilha. Não o contrário.
Deus está sempre com a gente, amamos-o acima de tudo e de todos, é incontestável. O lema faz reavaliar conceitos, reanalisar costumes. O que vale mais uma nota de cem, ou o conforto de termos um ser Supremo, que tantas coisas belas criou?
O tema da Campanha da Fraternidade 2010 é “Economia e Fraternidade”, com o lema “Vós não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” O tema é pertinente, num mundo globalizado e capitalista, que recentemente passou por uma crise, regada à recessão. A mensagem litúrgica surge como boa oportunidade para praticar o desapego perante os bens de consumo, valorizando muito mais o “ser”, do que o “ter”.
Sabe-se que o homem torna-se escravo perante à avareza. É certo que o dinheiro não é um mal, pelo contrario, serve como instrumento de troca, o que deveria facilitar o câmbio, as relações comerciais. No entanto, a moeda de valor afasta das pessoas um sentimento de solidariedade, bem como o espírito de partilha, a medida que cria sujeitos individualistas e por consequência egoístas. Isso tudo, reflete numa sociedade bastante desigual, na qual, como afirma o Diácono José Antônio Jorge, “uns se afogam no supérfluo, enquanto outros miseráveis não têm o mínimo para um vida digna.”
Seguir a Palavra Divina pressupõe abrir mão de muitas práticas mundanas, e este ano a Campanha Fraternidade coloca-nos um ponto crucial: como abrir mão do dinheiro, numa sociedade regida pelo poder de compra? Renunciar à moeda, significa a renúncia ao poder, num mundo em que a competição é acirrada, e o egocentrismo esquece das palavras divinas: “Amar o próximo como a si mesmo.”
Servir Deus ou Dinheiro, lembra-me a berlinda da escolha entre o pai e a mãe. Confesso que sinto-me culpada por pensar assim. Sinto-me fraca e dominada pelo capital. Dividida entre àquele que me criou, e aquele que quer me destruir. Deus nosso Pai, que nos ensina sem cobranças. O dinheiro que cobra, sem nos ensinar.
Apesar de católica e frequentadora da Igreja, poucas vezes parei para ler a Bíblia, conhecendo a Palavra do Livro Sagrado, apenas pelo sermão do Padre ou a instrução de catequistas.
O capital faz parte de nosso cotidiano, abandoná-lo é abdicar a vida como a sociedade ostenta. A grande questão é que não podemos tornar-nos dominados pela moeda, nem colocá-la acima de nossos irmãos, do próximo. O dinheiro deve facilitar, mas jamais substituir. Entre Deus e o dinheiro, o mais emocional e digno é optar pelo Pai, embora racionalmente, muitos não oscilassem escolher o dinheiro. Deve haver um equilíbrio, no qual o dinheiro compre o necessário, e seja uma ferramenta para prática de solidariedade, caridade e partilha. Não o contrário.
Deus está sempre com a gente, amamos-o acima de tudo e de todos, é incontestável. O lema faz reavaliar conceitos, reanalisar costumes. O que vale mais uma nota de cem, ou o conforto de termos um ser Supremo, que tantas coisas belas criou?
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
A Amazônia é nossa! Estamos dando-a de presente?
“Mãe, vou para Amazônia!” O susto na face de minha progenitora era mais do que visível. Sorriu-me, achando que aquilo era uma piada, ou a simples ilusão de uma jovem sonhadora.
No entanto, eu falava sério, como nunca antes havia imposto um desejo, aliás uma necessidade. Antes de querer viajar para Amazônia, eu precisava conhecer aquela região. A experiência seria exclusivamente profissional, bem como o enriquecimento. O ganho pessoal seria mera consequência, que até então, não me parecia tão relevante.
Demorou para que meus pais assimilassem a viagem. Está certo, que mesmo para mim, parecia exótico ir até lá. Eu, que nunca, havia sequer feito uma trilha no bosque de minha cidade, com pretexto de que “mato” despertava reações alérgicas em meu organismo. Porém, por que não começar em grande estilo? Nada mais pretensioso do que uma estréia em plena floresta amazônica.
Meus familiares tiveram seis meses para se adaptarem com a ideia e aceitar que a filhinha viajasse para a floresta, cercada de índios, vigiada por bichos, velada por mosquitos.
Dividia com meus colegas, minha ansiedade de conhecer o Estado Amazonas. “Nas féria vou para Amazônia!”, eu dizia, orgulhosa. A expressão de espanto era praxe: “Amazônia?”, relutavam.
Todos se preocupavam, recomendando o uso de muito repelente, o cuidado com a ingestão de alimentos, bem como de água, sempre me alertando sobre as onças e cobras amazonenses.
Isso tudo me assustava, assumo. Sentia-me partindo para um outro planeta, inabitável, a não ser pelas araras e pássaros coloridos.
Apesar de todas as adversidades que me foram apresentadas, arrisquei-me. De Campinas, parti para Manaus.
No Estado amazonense, compreendi as alertas que para mim foram acionadas. Alertas desreguladas, típicas da desinformação. As pessoas diziam-me aquilo, simplesmente porque desconheciam o que falavam. Regadas por um pré-conceito, sustentadas por uma imagem mítica, muitos brasileiros restringem a região amazonense à Floresta Amazônica, numa ignorância que inibe as tradições culturais, e reprime a diversidade de nosso país.
Brasileiros que gritam “A Amazônia é nossa”, mas sequer a conhecem, tampouco tem vontade ou coragem de vistar a bela região. Brasileiros que estufam o peito ao dizer que a Amazônia é brasileira, mas sequer conhecem o povo, as tradições daquele local. Um Brasil “dono” da Amazônia, que de longe tenta administra-la, sem saber de suas peculiaridades, sem ter curiosidade de desvendá-la. A Amazônia do Brasil, que não recebe brasileiros. Brasileiros que têm em seu territória a maior floreta tropical do mundo, mas preferem cruzar fronteiras, e conhecer locais muito menos densos, muito menos diversos.
Enquanto isso estrangeiros deliciam-se em nossa Amazônia, divertem-se com a cultura local, encantam-se com as belezas naturais. Gringos impregnam comunidades amazonenses, e entopem a já intransitável Manaus. Enquanto isso, os conterrâneos sequer têm uma imagem lúcida da região, e o que é mais triste, sequer se esforçam para desmitificá-la.
“A Amazônia é nossa!”, orgulham-se os brasileiros. Um orgulho ferido, que embrulha, e aos poucos presenteia gringos, que a cada viagem, conhecem uma parte peculiar de nossa floreta, aliás, de nosso Estado Amazonas, que tanto falamos, mas muito pouco conhecemos.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
"Arranque o Lula da Parede!"
Recentemente, participei da mais atual etapa do projeto Biotupé, realizada na região amazonense, na RDS do Tupé. A parceria é entre o INPA e a Puc-Campinas, além de renomados pesquisadores, que ofereceram a oportunidade de jovens universitários se envolverem com políticas públicas daquelas comunidades.
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, os estudantes tinham a meta de pesquisar variáveis sociais em residências do local, através de formulários, a partir dos quais, pretende-se criar o Índice de Qualidade Socio-Ambiental (IQSA), que considera aspectos como condições de renda, saúde e habitabilidade. Como futura jornalista, tive a missão de acompanhar meus colegas nas visitas residências, com o objetivo de relatar aquela realidade, por meio de um documentário. Uma grande experiência profissional. Um enorme enriquecimento pessoal.
Na primeira casa que visitamos, fomos recebidos pela Dona Maria, a típica dona de casa, que cuida dos filhos, da limpeza dos poucos cômodos, da organização dos escassos móveis. Maria que não diz nada sem João, não encara-nos de cabeça erguida, sussurra ao invés de falar, e amamenta, o filho que chora. Em sua simplicidade, nos ensina a sorrir em meio a precaridade, e esperar sem desespero, o futuro melhor, que um dia chegará. Ou não.
Próximo dali, ainda na comunidade Tatulândia, encontramos a Dona Rosa. Nada tinha de Maria do João, embora se ocupasse com afazeres domésticos. Encarou-nos nos olhos. Impôs um tom de voz respeitável, e ao ver a câmera, disparou críticas e reclamações sobre as condições de vida da comunidade. Olhava fixa à lente, feliz por poder falar o que estava engasgado. Implorar soluções para suas dificuldades. A alegria de ter voz ativa. Falar e ser ouvida.
Dona Rosa não conhecia o Projeto Biotupé, e caso já tivesse ouvido falar, não associava o nome. Para ela pouco importava o que nós tínhamos para lhe oferecer. Era visível a descrença daquela senhora. O cansaço de tantas promessas, que não evoluem desse estágio.
A senhora arretada nos revelou as precaridades da comunidade. As visíveis já haviam despertado minha atenção, a começar pela condição da habitação. Porém, só quem vive ali, conhece as feridas que mais incomodam sobre a pele.
Contou-me o problema da falta de escola e de posto de saúde. Surpreendeu-me pela visão consciente: “Se a pessoa não lutar, se a pessoa não persistir, vai acontecer alguma coisa? Não vai, mais não vai mesmo. São coisas que também dependem dos comunitários, dos moradores, de todos. Não só de uma pessoa. Você acha que uma andorinha só faz verão? Não faz, não, Se não houver união entre os comunitários, isso aqui nunca vai pra frente. Nunca.”
Apresentado os problemas, Dona Rosa, emendou críticas, num tom de indignação e exigência. O foco das reclamações foi o Programa do Governo Federal “Luz para Todos”, que surge como forte propaganda governamental. Porém analisando de perto, considerando os “beneficiados”, é visível a publicidade “meramente ilustrativa”.
A promessa do Governo Lula era levar luz “pra todos” das comunidades da RDS, até o mês de dezembro de 2009. No dia 29 de janeiro de 2010, Dona Rosa, mostrava-se decepcionada e com a esperança no tanque de reserva. Nada de luz. Tudo são promessas.
Acatei a crítica de Rosa, apoiei em suas palavras, conversamos sobre o Governo, a política de nosso País. Revelei à ela, as mazelas do Estado de São Paulo, não para confortá-la, mas para me aliviar, desabafar. Dona Rosa expressava-se de forma áspera e isso representou-me a ânsia por um país melhor, e fez-me acreditar que existem pessoas dispostas a lutar para isso.
Confesso que fiquei contente com a ação daquela mulher, a coragem de gritar e demonstrar sua insatisfação. Ah, se todos fosse como Dona Rosa... A passividade passa longe dali. A briga por uma vida melhor está em cada expressão da face daquela idosa, que outrora fora funcionária da Aeronáutica.
A conversa fascinou-me pela motivação daquela senhora, o inconformismo que faz com que as coisas melhorem, ou que pelo menos pressiona para isso. Um fascínio iludido, confesso-lhes. Dona Rosa, criticava a falta de energia elétrica, mas a ignorância, não sendo isso um insulto a nobre mulher, fez com que Dona Rosa falasse uma coisa e se contrariasse em imagens.
O Projeto de Lula não a beneficiou, tampouco a tantos outros ribeirinhos. Estava claro que o presidente era mais um daqueles que prometem, e nem sempre cumprem. No entanto, por ironia ou desinformação, entre os poucos adereços que enfeitavam a casinha de Dona Rosa, estava um poster. Nesse retrato, o presidente Lula sorria-nos, num sorriso ambíguo, metafórico e ilusório.
A conversa perdeu o rumo, assumo-lhes. Fitava o presidente e ele retribuía com olhar cínico. Aquele que implora por votos nas eleições. Voltada novamente à Dona Rosa, só podia perguntar: “Rosa, a senhora de fato está insatisfeita com os projetos governamentais?”. Com uma certeza peculiar, afirmou-me que sim. “Então Dona Rosa, arranque o Lula da Parede!”
sábado, 13 de fevereiro de 2010
A infância na Amazônia
Pode parecer nostalgia, saudade precoce, ou medo do que vem pela frente. Mas, de um tempo para cá, muito tenho falado da infância, muito têm me encantado as crianças.
Na Amazônia não foi diferente. Em visita a RDS do Tupé, à 25 km de Manaus, constatei comunidades humildes, com famílias grandes, com muitos adultos e várias crianças, e uma certa escassez de jovens, isso porque, trata-se de uma juventude que acredita num futuro melhor, e atrás desse sonho, deixa seus familiares e sua comunidade levando consigo sonhos, numa busca incansável por oportunidades. Vão para Manaus, onde há escola e melhores condições de trabalho. Necessidades básicas que no Tupé, rareiam.
Enquanto eles vão, uma nova geração cresce, e não tarda seguirem o mesmo destino: Manaus. Nascido na comunidade, torna-se jovem na capital, mas sempre volta ao berço, mesmo depois de conhecer a cidade grande.
“Manaus é muito quente”, argumentam.
“Aqui no Tupé é melhor, apesar de tudo”, revelam.
Isso fica claro ao vermos as crianças. O Tupé, deve ser sim, muito, “apesar de tudo”. O sorriso é permanente na face da molecadinha, assim como a simplicidade e ingenuidade. Garotos que jogam bola e confessam o sonho de jogar na seleção. Meninas que brincam de casinha, mesmo sendo essa, sem utensílios domésticos. Crianças que colorem os corpos, com frutinhas que soltam as tintas da natureza. Garotas e meninos que recebem-nos de forma muito afetuosa, não por carência, mas pela vontade de fazer novos amigos, que mais tarde irão brincar de pega-pega com eles.
O primeiro garoto foi o Marcelo, sorriso grande, olhos curiosos, corpinho de serelepe e um jeitinho que amolece o coração e fez com que eu lhe emprestasse minha câmera, mesmo sabendo do risco que máquina correria. O típico moleque que anda de descalço e com um único abraço levou-me ao chão. Literalmente.
Conheci também a Gabrieli. Pequenina e delicada, como uma princesa dos contos. Sorriso banguela, pés e mãos sujinhos de brincar na terra. Recebeu-me com um beijo, e logo sugeriu que eu experimentasse um frutinha vermelha, dividindo a que vinha em seus braços comigo. Gabi, não se importou em ficar com o menor pedaço.
Teve ainda o Rogério, timidamente encantador e a garotinha da bala de Cupuaçu, que mesmo com a toquinha de preparar os doces, abandonou a cozinha da comunidade e veio ao meu encontro.
Conheci crianças que me ensinaram a cuidar de uma plantinha medicinal e a dar valor a muitas coisas que até então, eu não percebia. Fiz amizade com meninas e meninos de uma criatividade invejável, a ponto de improvisarem brinquedos com aquilo que Deus nos deu, e serem extremamente felizes com tais.
Conheci uma infância sem acesso a Internet, mas que sabem como poucos transmitir a alegria de ser criança. Capazes, inclusive, de nos contagiar com ela.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Desmitificando a Amazônia
Na escola, ainda nos jardins da infância adorava ler as historinhas de nosso folclore, sobre o Saci Pereré, a Mula-Sem-Cabeça, o estranho Curupira, a agitada Caipora. Sonhava ser a Sereia e sempre achei suspeita a história do Boto Cor-de-Rosa. Pra mim todos eles existiam e qualquer dia poderia deparar com eles na rua. De alguns, confesso tinha medo, outros apenas curiosidade. Seria legal ser amigo do mocinho de “cachimbo na boca, soltando fumaça”, mas preferia manter distancia do rapaz que tem os pés virados para trás.
Teve uma época que acreditei no lobo-mau, no homem-do-saco, na fadinha-do-dente. Mas logo veio-me a desconfiança e junto dela a decepção. Por que me enganaram por tanto tempo? Era criança, argumentam. Nada melhor que viver no mundo do faz-de-conta.
Passada a fase folclórica e dos contos-de-fada, novamente fui enganada. Não com histórias fabulosas para deixar meus dias mais encantados. Desta vez, com mentiras, disfarçadas de verdades. Por incrível que pareça, não trato aqui da política nacional, embora a carapuça de falsidade mascarada de veracidade, sirva direitinho.
Enganaram-me sobre meu país e sobre o povo de minha nação. A mídia ao mesmo tempo que informa, é alienante. Ao mesmo tempo que especifica, rende-se à generalização. Enquanto a lente foca a sua frente, perde-se as demais parcelas dos arredores.
Em viagem à Amazônia, decepcionei-me com aquilo que me diziam. Surpreendi-me com aquilo que vi. Admirei de forma indescritível tudo o que presenciei.
A Floresta densa, bela e de infinita variedade resumiu-se a uma trilha de 40 minutos, que fascina pelas cores, chama atenção pelos sons e surpreende pelos aromas que constantemente variam, desaguando numa refrescante e cristalina cachoeira.
As onças, os jacarés e as belas araras deveriam estar em viagem. Ou mais uma vez fui enganada. Sobre o Rio Negro navegávamos. Ora ou outra um pássaro, e com mais raridades, botos, cinzas, e não cor-de-rosas como dizem por aí. Sequer vi uma cobra. Tive que contentar-me com um sapinho. Cheguei a questionar: estou mesmo na Amazônia? Sim, estava. Logo avistei um belo Tucunaré.
Por falar em animais, grande receio tinha dos insetos. Confesso que a fama dos mosquitos amazônicos fez com que corresse o risco de me intoxicar, de tanto repelente. Pesquisadores, mais acostumados com a região, nenhum produto usavam para repelir, até porque, onde estavam as moçorocas? Mais uma vez, as informações que me foram passadas estavam erradas. Os mesmos mosquitos de lá, são os de cá, com exceção do mosquito da malária, que infelizmente acomete famílias com considerável frenquência.
O calor amazônico não é o que vem do sol. Garanto-lhes. Esse as águas turvas do Rio Negro refrescam e as barrentas do Solimões amenizam. O calor é humano. E isso percebe-se ao olhar aos amazonenses. Os olhos que fitam e incendiam. O sorriso que aquece. A acolhida da população amazônica ferve em gratidão, que logo refresca com a oferta de um copo d´água. A alegria de viver com tão pouco é transcrita num abraço caloroso.
O afeto do povo amazonense, fez com que minha atenção voltasse-se para aquela população. Sabia que tinha algo estranho, apesar de toda acolhida. O estranhamento foi justificado: sentia falta das penas e da pintura corporal. Onde estavam os índios da Amazônia?
Estavam numa oca, que imitava as casas tradicionais indígenas. Uma imitação interessante, mas sem credibilidade. Pessoas indígenas, que ao invés de vivenciar as tradições, encenam espetáculos, e cobram por esta exibição. Uma forma de garantir o sustento, mas que fere a ideia de tribo indígena.
Sem indígenas como aqueles dos livros, conformei-me, e assumo, encantei-me com caboclos da Amazônia. Caboclos que vivem em casas de madeira. Caboclas vaidosas, que trocavam dicas de beleza, com nós, garotas da cidade grande. Pessoas que adoram uma geladinha e não dispensam um belo X-salada. Famílias que não perdem um capítulo da novela das oito, e já têm na coleção de DVDs, o filme “Lula, o Filho do Brasil”. Sim, lá existe pirataria.
Caboclos que se comunicam via rádio, pois segundo Dona Glória é mais prático e mais econômico. Sim, tem sinal de celular na Amazônia.
Caixas de som muito potentes faziam a trilha das comunidades. Guitarra e bateria, despertavam o dom de muitos jovens.
Gente como a gente, que nos deixa à vontade. Que nos conta histórias, e apreciam ouvir as nossas.
Pessoas que nos fazem perceber o quanto somos idiotas a ponto de precisar de muito para ser feliz. Descancaram de forma sincera e sem ofensa, nossa ignorância, enraizada em um mito lendário e desatualizado.
Dona Maria da Glória, moradora da comunidade do São João, foi enfática em suas considerações: “As pessoas acham que a Amazônia, Manaus só existe índios, que as pessoas ainda vivem aquela vida primitiva. No entanto, infelizmente, eu acho que é falta de oportunidade das pessoas passearem, conhecerem. É falta de informação para conhecer os lugares lindos que nós temos, com pessoas maravilhosas, acolhedoras. Infelizmente, muitos lugares de nosso país ainda existem pessoas com essa forma de pensamento, de visão. E isso, às vezes deixa a gente triste.”
Nós, estudantes que fomos até a região do Tupé, na Amazônia, achávamos que muito tínhamos para ensinar, no entanto fomos nós que muito aprendemos. Conhecemos o Estado Amazonas com o olhar dos ribeirinhos. A desmitificação foi uma consequência.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Os trotes vem aí, mas vale lembrar....
Deixamos o trânsito de Campinas, para navegar sobre a calmaria do Rio Negro. Deixamos o carismático campineiro, para conhecer o hospitaleiro amazonense.
Nós, estudantes da Puc-Campinas, participantes de uma das Práticas de Formação oferecida pela Universidade, fomos presenteados com a oportunidade de conhecer a Amazônia, através de uma parceria entre o “Projeto Biotupé” e Pontifícia.
A experiência foi enriquecedora aos universitários e elucidou a responsabilidade da juventude.
Com início de mais um ano letivo, não demora aos jornais noticiarem casos de trote violento, escancarando uma face obscura, de uma minoria jovem.
A obscuridade que se noticia apaga o brilho radiante da juventude que participa, pesquisa, aprende e ensina. O Projeto Biotupé faz um bonito trabalho em comunidades do baixo Rio Negro, num acompanhamento contínuo, numa assistência permanente e ainda promove o envolvimento de universitários com políticas públicas, que poderão ser aplicadas em bairros de nossa cidade.
Que a infantilidade de trotes insensíveis não se sobreponha à maturidade de uma juventude que tem ânsia por oportunidades e faz jus a confiança depositada.
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