segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A bomba do Enade, segundo funcionalistas...


Dilma Rousseff referiu-se, recentemente, a “dois brasis”. Questionei-me de quais brasis referia-se: o Brasil do ricos e o Brasil dos pobres? Dos dominantes versus dos dominados? Dos patrões e dos empregados? Talvez, o Brasil corintiano e o Brasil palmeirense. Ou até quem sabe, era uma forma de enfatizar a desigualdade brasileira, as diferenças econômicas e sociais. No entanto, decepcionei-me. A ministra, mais uma vez, veste a carapuça da disputa eleitoral, e assim, todas minhas suposições tornam-se equivocadas.
A pré-candidata à presidência trata destes dois cenários brasileiros, afim de designar o Brasil até 2002, e o Brasil 2008-2009. Sem entrar em detalhes aos méritos do governo lulista – quem quiser fazê-lo dedico o espaço dos comentários, no qual inclusive, podemos abrir um debate - a senhora Lula (que isso não cause ciúme a Dona Marisa), fez-me prestar atenção nas “duas Campinas” (cidade onde nasci e resido atualmente).

Aqui há uma distinção entre a Campinas do “lado de cá da Anhanguera”, e a longinqua Campinas “do lado de lá da Anhanguera”.

Pegando a Jonh Boyd Dunlop e seguindo sempre em frente o campineiro “de cá” questiona-se: “Ainda estamos em Campinas?” ou espanta-se: “Nossa, como nossa cidade é grande!”. Grande e bonita. Grande e diversa. Grande e desenvolvida. Passa o Jardim Ipaussurama, o Residencial Cosmo, perto do Jardim Florence, logo mais o Jardim Rossim, a frente encontramos a Estação de Tratamento de Esgoto Capivari, dali é só ir reto, sempre reto e sem pressa, até chegar ao Campo Grande e enfim seguindo um pouco mais, temos o Itajaí. Foi este meu destino (espero num próximo post nomear mais bairros, conforme for conhecendo a grandiosidade campineira).
Uma cidade do tamanho Campinas, felizmente não se resume ao Cambuí, Taquaral, Gramado, Centro e redondezas. Abrange uma outra Campinas, com os mesmo méritos da “de cá”.

A prova do Enade, realizada ontem, e que tem como intuito avaliar o ensino nas Universidades, foi aplicada em vários bairros periféricos do “lado de lá”. Os estudantes, que como eu, foram convocados para realizar a avaliação, deixaram as proximidades das Instituições e se “aventuraram” naquela Campinas.
Jornais locais noticiaram reclamações de estudantes, enquanto nas salas de aula discutia-se os locais de prova. O inconformismo com a distância era visível, e uma dose de preconceito não mantinha o disfarce.

O mal do ser humano é criticar, fantasiar, imaginar ou seguir preceitos daquilo que desconhece. É aí que entra a importância da desmistificação. O mito da periferia só é derrubado quando se tem contato com aquela realidade, quando se conhece o contexto e é sensível para entender aquelas pessoas. Claro que no Itajaí tem violência, bem como no Taquaral e no Cambuí.

Naquela “estrada” que liga as “duas campinas” chamou-me atenção a arborização planejada nos canteiros, embora mais ainda, surpreendeu-me a mata às margens da pista. Vez outra uma rua arterial de terra desviava meu olhar, ou mesmo uma casa mais humilde ou, dando sinais de urbanização, desconcentrava-me muros pichados, comuns, inclusive, no centro da cidade.
Ir reto, sempre reto, foi o conselho, não tinha como errar. Estava curiosa, queria desvendar aquela outra Campinas. Assim, os trinta minutos de “viagem”, tornaram-se cinco insuficientes minutos de ansiedade. Como será essa outra Campinas? Como são as pessoas de lá? As casas, os mercados? Será que têm shopping, bancos? Será mesmo perigoso? Devo levar meu celular, carteira? Tantas perguntas... Vãs perguntas! Por que ninguém me avisou que a outra Campinas nada mais era que a minha Campinas!

Comemora-se a queda do “Muro de Berlim”, porém o triste é saber que não desaprendemos a construir muros, nem pegamos a façanha de destruí-los. A Anhanguera, embora física, ganha conotação de barreira simbólica, separando uma cidade, em duas realidades. Estas barreiras são impregnadas de preconceito, e por preconceito subentende-se desconhecimento. Uma cidade singular como Campinas, com certeza tem suas pluralidades. E para percebê-las basta conversar com seu vizinho. O meu gosta de ouvir rock, enquanto sou amante de sertanejo, exemplo claro de que não precisamos cruzar a Anhanguera para encontramos divergências ou realidades distintas.

Bom, voltando a minha experiência no “lado lá”... Nas ruas o que vi foram muitos carros, muitas pessoas, dando a impressão de um grande centro comercial. Mercados, açougues, padarias e praças lotadas de gente. Nada diferente do habitual do “lado de cá”. Casas grandes, outras pequenas, algumas pintas, outras grafitadas e algumas implorando por reforma. Nada que me surpreendesse. No local da prova um muro muito pichado cercava a escola. Lá dentro um verde oliva harmonizava as paredes, conservadas, dando impressão de recém pintadas. As mesas e cadeiras compatíveis e adequadas com o ambiente escolar, não dispensavam rabisco, “colinhas”. Nada que do “lado de cá” não nos deparemos.

Mais que automóveis, comércio e estruturas físicas, encontrei pessoas campineiras, que não negam uma ajudinha, afinal “Alguém sabe onde é a escola Ruy Rodrigues?”. Conversei com gente como a gente, que gosta de “bater um papo” e não economiza no sorriso e gentileza.
Conheci, inclusive, uma garota de dez anos, que me guiou até a escola, mostrou sua casa, o lar de seu tio, a padaria com pãozinho saboroso e o melhor caminho para chegar a Ruy Rodrigues.

Meu objetivo não é amenizar os problemas, nem mesmo as dificuldades daquela população. Até porque este é mais um ponto que os de cá, convergem com os de lá. Afinal, que lugar de Campinas não podia ser melhorado? Quem não tem problemas? O do Itajaí os tem, bem como o do Gramado.

Essa visão ganhei ao conhecer uma cidade igual a nossa, aliás ao conhecer melhor a nossa cidade. A única diferença entre os “de cá” e os “de lá” é que “eles” moram mais longe. Ou será que somos nós que moramos longe? Quem sabe até, somos nós que nos distanciamos. Ou foram eles que preferiram expandir nossa Campinas, com o sonho de uma nova e melhor cidade.
O fato é que tudo é relativo. E segundo os funcionalistas, tudo tem um lado bom. Conehcer o lado de lá foi um ponto positivo da prova do Enade, mesmo tendo que responder que a culpa é mídia, e que "Nosso Guia" sim, entende de marolinhas.
O importante é que mais uma vez comprovei o quanto o Brasil, como um todo, é singularmente plural em sua convergência de diversidades.

4 comentários:

  1. Criaram um monstro tão grande em relação ao Dic VI que imaginei que fosse encontrar uma guerra civil, com casas caindo aos pedaços e esgoto correndo a céu aberto. Loooooonge, muito longe disso mesmo. É um bairro normal, com pessoas que vemos por aí a toda hora, com uma escola estadual rasoavelmente bem conservada, banheiros limpos, nada de estranho. Ficou clara a ideia de que tudo que fica mais longe de onde estamos obrigatoriamente é pior. Ideia sem sentido nenhum.

    OBS: não teve como não dar risada na questão da "marolinha" haha...

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  2. Que bom que teve a mesma imagem que a minha... =) Mais um mito que derrubamos... Não adianta falar do desconhecido... A gente quebra a cara, não tem jeito..

    Olhaaa.. a da "marolinha" TINHA que ser dissertativa.... mas acho q Lula e seus amiguinhos, teriam medo das resposta... Acabou sendo um tipo de censura, fechou-se um leque de interpretações... mas, é este governo que elegemos.. pelo menos até 2010 =)

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  3. Então quem também queria responder as outras questões de forma dissertiva foi censurado? Mande a sugestão do INEP criar redação e sua fase no ano que vem assim todos ficam felizes.

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  4. Eu falei em tom de brincadeira... rsrs estava comentando com o Fernando depois da prova e comentamos a possibilidade de uma dissertação, ou pelo menos opções bem distintas uma da outra, com possibilidade de outras interpretações, pois ao contrário da Bala Mágica a mensagem não chega a todos de forma igual...
    Estavamos comentando que muitas pessoas perderam empregos nesta marolinha.. é aquela coisa... marolinha pra quem??
    Mas, você tem razao... vou sugerir ao INEP, ainda mais por ser curso de comunicação socail, uma redaçao avaliaria nosso domínio da lingua Portuguesa, bem como nossos argumentos... seria pertinente =)

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