sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Errar é humano, insistir no erro...
Hoje é dia da Consciência Negra e como José Simão enfatizou, seria pertinente reservarmos uma data em nosso calendário para comemorar o “Dia da Consciência Pesada”, em alusão aos políticos corruptos, assaltantes, ditadores e a todos aqueles que pregam a mordaça à liberdade de imprensa.
Durante o dia, li bons artigos relacionados ao 20 de novembro, destacando a figura de Zumbi dos Palmares, as conquistas dos negros, bem como movimentos relacionados ao assunto. Sem dúvida a data importante, porém parece-me uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que elucida a população negra, não afirma sua segregação? Atá porque, não temos o Dia da Consciência Branca. Não afirmo que está minha reflexão esteja correta, aliás acho o “preconceito” um tema extremamente polêmico, difícil de ser tratado.
A sociedade está impregnada de preconceito. Neste contexto há enorme crítica sobre o racismo, embora outras pessoas sejam discriminadas. É errôneo ao adotar o pré julgamento e se adaptar as generalizações.
No artigo “Basta apenas um olhar” (abaixo), coincidentemente tratei de uma pré concepção que tive, e muitos na sociedade tem. Tememos parar em semáforos, pois nossa mente pressente que aquele “carinha” que chega pedindo um “trocadinho”, pode nos assaltar. A marginalidade é um atalho para a violência. Porém, somos nós, integrantes da sociedade, os responsáveis por levá-los até a margem, negando-lhes oportunidades, diferenciando-lhes economicamente. A violência é reflexo da sociedade desigual, capitalista, embora não seja justificável. O preconceito é reflexo do desconhecimento e egoísmo das pessoas.
Sou contra qualquer tipo de preconceito, mas a vezes minha pré concepção me surpreende.
Se para a religião somos todos irmãos, a ciência, também prova-nos que somos todos iguais. Assim como a lei que nos garante, ou ao menos deveria garantir, a igualdade. Apesar disso, ainda somos suscetíveis ao julgamento precoce.
Ontem, fui surpreendida com uma pauta: acompanhar o processo de decoração natalina, em minha cidade, Campinas. Até aí, nada de novidade, afinal todo ano o município fica mais bonito e os cofres da Prefeitura chegam a desembolsar um milhão de reais, para as luzinhas natalinas.
A notícia é que as decoradoras são detentas do Presídio de Campinas. O objetivo era entrevistar um representante municipal, um dirigente da prisão e é claro, conversar com as presidiárias. A matéria foi realizada junto com, a também estudante de Jornalismo, Nádia Macedo.
O funcionário da Prefeitura nos deu informações do projeto, os benefícios que as detentas tem, os bairros em que trabalham, o que enriqueceu a sonora. Representantes dos presídios negaram a entrevista, com o pretexto de que não podem se identificar. As presidiárias necessitam de autorização do Estado, caso contrário, não podem conceder depoimentos. Não tínhamos o aval. Porém, precisávamos efetivar a matéria.
Os nomes não podiam ser ditos, as vozes não deveriam ser gravadas e fotos eram proibidas. As detentas, embora com tantas restrições, podiam ver a luz do sol, e uma conversa corriqueira era permitida.
Abordamos uma das mulheres e surpreendentemente fomos presenteadas com um belo sorriso. A conversa fluiu impressionantemente bem. A detenta contou-nos sua história. A pena de dois anos e oito meses tornou-a amante do Sol, um amor, até então, platônico. A saudade de seus filhos dava-lhe força para aguardar a soltura. A oportunidade de estar nas ruas, justifica o ato de sorrir.
A Prefeitura, mais que enfeitar a cidade, proporciona uma nova perspectiva para aquelas presas. A reintegração na sociedade já não parece tão utópica. Com trabalho por Campinas, as presidiárias tem abatimento na pena e recebem um salário mínimo.
A conversa estava boa e a curiosidade jornalística era cada vez mais aguçada. A mulher tinha muito a nos contar. Nosso tempo era curto, mas permitimo-nos extrapolar. Pegamos um saco de lixo e sentamos sobre ele. Muitas perguntas, todas com respostas.
Estar numa prisão, segundo a detenta é estar em um zoológico. Tornam-se animais, cercadas por grandes, submetidas a duras regras. Contou-nos que divide o xadrez com mais vinte e quatro detentas, algumas sem conclusão do ensino médio, outras graduadas. Desde do furto, até o assassinato. Todas juntas, trocando experiências, testando o grau de tolerância, o respeito, todas as dificuldades do convívio, acrescido de restrições e desconforto de uma prisão.
A maioria não recebe visita de seus familiares e a ociosidade preenche os dias destas mulheres. Periodicamente há fiscalização no ambiente, as presas são revistadas de forma agressiva e desrespeitosa. A rotina é árdua e a muitas não suportam a situação, estando predestinadas a loucura.
Com todas dificuldades, por tudo que a mulher deve ter passado, aquele dia, parecia mais bonito aos olhos da detenta. A liberdade parecia mais expressiva e a esperança a única saída.
Preferi não perguntar qual crime ela havia cometido. As palavras foram tão bonitas e a experiência de ter contato com uma detenta foi enriquecedora. Talvez tenha sido fraca, ou mesmo ingênua. Optei por não correr o risco da decepção.
A moça podia ter cometido um homicidio, tráfico, não sei. O importante é que naqueles vinte minutos de conversas ela me emocionou. E ao contrário do que eu pré concebia, aquelas detentas não pareciam-me revoltadas, tampouco diferentes de mim.
A detenta enfatizou que “Errar é humano”. Eu disse para ela: “Insistir no erro, é burrice”.
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