sábado, 7 de novembro de 2009

"Quando vocês voltam?"


No final de janeiro, vou para Amazônia. Já expliquei um pouco do projeto em um texto publicado aqui. Resumidamente, um grupo de universitários vai até a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Biotupé, onde será realizado políticas públicas em benefício às comunidades que ali residem. A essência é “devolver àquela população, o que já é deles.” A ferramenta usada é DRP, que considera os desejos das pessoas, a partir dos quais elabora-se possibilidades.
O desafio é derrubar o mito do assistencialismo, ou de projetos pré-elaborados, nos quais pesquisadores vão até a região carente já com objetivos traçados, medidas determinadas e impõe o que consideram ideal à comunidade, porém se esquecem do principal: ouvir o que aquelas pessoas almejam e a viabilidade de atender tais pretensões.
Destaca-se a importância de que a população a ser atendida tenha autonomia de ideias, autodeterminação e também a liberdade para realizar os projetos. Afinal, é o ferido que sente a intensidade de sua dor. Ou, sem metáforas, só quem vive as dificuldades reais, conhece suas prioridades e tem ciência das alternativas viáveis.
É neste sentido que desenvolve-se o Projeto Biotupé, com base em redes sociais, multidisciplinaridade e ferramentas voltadas para entender e atender as necessidades humanas.

Estamos próximos do Natal, época de trocar presentes, muita fartura, reunião familiar, alegria, brindes, comemoração. Infelizmente, não é este o Natal que todos conhecem (confira post “A insensibilidade sensacionalista”). Porém deve-se lembrar que a real essência é o nascimento de Jesus. Não é bem isso que quero ressaltar, porém não desconsidero a importância.

A questão é que na época natalina, muitas ações solidárias afloram na sociedade. ONGs, campanhas, famílias e grupos unem-se com objetivo de proporcionar uma ceia mais feliz. Comunidades carentes, bairros periféricos, creches, orfanatos, escolas públicas, hospitais recebem visitas de solidariedade, que muitas vezes levam presentes às crianças, cestas de alimento aos adultos, proporcionando o clima capitalista do natal.
Não critico estas ações solidárias. Pelo contrário, são atitudes bonitas, que mostram o espírito samaritano, comunitário e receptivo do brasileiro. Quantas meninas não sonham ganhar uma boneca, bem como meninos aspiram por um carrinho? Quantos pais não lutam para dar tais presentes ao filhos? É impagável um sorriso sincero e satisfeito. Estas ações proporcionam isso.
Num primeiro momento, os atendidos perguntam “O que vocês vão nos dar?” E eis que recebem as doações, os embrulhos e toda assistência. O ato de sorrir é involuntário e os lábios abrem-se sem disfarce.
No entanto, a segunda pergunta é inevitável, e mais complicada de ser respondida. “Quando vocês voltam?”. Pode-se responder que voltam no próximo Natal, ou quem sabe no Dia das Crianças. Cruel será o terceiro questionamento: “E até lá, como ficamos?”. A crueldade é tão evidente, que não se encontra palavras capazes de responder.

Outra questão que me intriga é o assistencialismo. Entregar o enlatado é muito mais fácil do que ensinar a produzir o conteúdo. A única coisa que ninguém nos tira é o conhecimento. A assistência muitas vezes depende da boa vontade, dos recursos e em casos extremos, do interesse daquele que atende.

Reafirmo que não se trata de critica, mas sim de preocupação. Políticas públicas que atendam à sociedade têm de ouvir as pessoas, inserir-se naquela realidade, entender as necessidades. Só assim as pessoas poderão andar com as próprias pernas. Só assim o assistencialismo torna-se assistência e o projeto solidário, ganha faces humanitárias.

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