quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Insignificantes: Eu, Tu ou Eles?
Como já mencionei por aqui, cansei de criticar nossa política. Política não foi criada por Deus. Se tem algum responsável, esse é o homem. Políticos não foram eleitos por força divina, portante, se há responsabilidade de alguém, esta é do eleitor.
Minha atenção sempre esteve nos jornais diários, mas a semelhança entre os fatos noticiados, bem como a denúncia da sociedade assustadora que vivemos, distanciou-me, ao menos por um dia, dos periódicos.
Fazia tempo que não ia ao centro de minha cidade. Um pouco por falta de tempo, um pouco por medo da violência. Nunca fui assaltada (graças a Deus), mas prefiro não correr riscos, embora baste estar vivo, para ser suscetível a tais.
Ontem, abri mão de meus temores, ou pelo menos, assim tentei.
Pela manhã, fui ao centro e mesmo com pressa banhada de receio, meus olhos fitavam situações que nunca tinha visto, ou melhor, jamais havia percebido.
Sentado na calçada havia um senhor, com as pernas esticadas, e muitas, mais muitas feridas e inflamações sobre o corpo. Enquanto as pernas estendidas lhe proporcionavam melhor conforto, o braço esticado implorava uma ajuda. O retrato da dor foi sentido por mim. Perante aquele sofrimento, meus olhos desviaram-se. Insignificante.
Naquela mesma calçada, lotada de pessoas e sacolas, comprovando o espirito capitalista do Natal, deparei-me com uma cadeirante. Incrível como o piso é irregular, os acessos inadequados e se, como sempre reclamo, é difícil caminhar com saltos finos, fiquei imaginando o desfaio de andar sobre uma cadeira de rodas. Inconformados e impossibilitados, mais um vez meu olhar mudou de foco. Insignificante.
Na praça do Palácio da Justiça muitos engraxates embelezavam velhos sapatos, jogavam conversa fora, um joguinho de baralho, numa realidade tão distante e tão mais lícita do que a de Arruda que parei para observar. Não é que engraxate existe mesmo? Olhei para o relógio. Pressa. Atraso. Insignificante.
Descobri também que pomba da paz não é mito. Na principal rua do centro, um rapaz todo pintado de branco segurava uma pombinha bem branquinha. Juntos, os dois apresentavam um número previamente ensaiado, e depois de concluído “passavam o chapéu” para colher os frutos do trabalho. Embora o dinheiro não renda tanto como em meias e cuecas, o homem branco parecia satisfeito. Devido a pressa, não pude esperar o próximo show. Insignificante.
Todas aquelas situações despertaram-me curiosidades, e mesmo que por poucos segundos, prenderam minha atenção. Os olhos relutavam em não enxergar o que viam, mas a insignificância daquelas pessoas protagonizavam aquele cenário.
Ali, bem no centro da cidade, estavam explícitas, mazelas de nossa sociedade. O enfermo sem assistência. O deficiente imune de adequações. O trabalhador honesto que insiste em seu ofício para subsistência. O artista que faz mil piruetas, para garantir o leite das crianças.
Além de transparecer os desafios de nosso País, mostraram-me o quanto, eu, sim “eu” sou insignificante, na maior confissão de toda minha fragilidade e indiferença, num ato de enorme covardia, tentando, na mais inútil das tentativas, “tapar o sol com a peneira”, esconder dos olhos, o que o coração já havia sentido.
Se no artigo “Eleitor Otário” (abaixo) retratei nossa imbecilidade, aqui demostro nossa incapacidade.
Somos incapazes de curar feridas. Impossibilitados de nivelar calçadas. Insensíveis a ponto de não reconhecer o profissional que engraxa. Não temos tempo para aplaudir um novo show.
Hoje, meu maior temor, não é caminhar pelo centro de Campinas, mas sim, tenho medo de que chegue o dia em que não tenhamos mais tempo para passar com os amigos, que nos falte minutos para sorrir.
Estes olhos de insignificância, já foram olhos de desprezo, desaprovação, bem como de afeto, carinho, amor. Estes olhos, que a “Terra há de comer” já se inconformaram com cenas de mensalão, já se envergonharam com a política nacional. No entanto, esse olhar ainda tem luz e é regido por esperança.
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Meus temores são bem parecidos com os seus, pois tenho filhos e terei netos que viveram neste país onde o ser humano vale menos que uma dose de pinga e onde os governos fazem questão de manter anestesiado o povo para poder receber deles a única coisa que poderia mudar o Brasil O Voto.
ResponderExcluirEu acho sendo pessimista que sou que antes de melhorar vai piorar muito.
É mais ou menos a análise de que antes de Rico, o Brasil vai ficar velho...
ResponderExcluirEstamos nesse barco, vamos ter que encarar as tempestades e ventanias.. Pelo menos estamos juntos... em busca da Terra Prometida =)
Como Arnaldo Jabor disse, o pior não é a violência, mas o acostumamento com a violência. O mesmo se aplica a todas as questões socias, como a corrupção, a indiferença, pobreza...
ResponderExcluirAs vezes penso que toda a sociedade, todos nós, estamos nos tornando cada vez mais sociopata. Todos adquirimos uma falsa sensação de espanto ao ver casos e mais cosos de corrupção e violência, mas o que predomina é a indiferença. É tanta informação ruim jogada pra nós, que ficamos dopados e anestesiados por essas tragédias. Se tornou indiferente ver enfermos sem assistência, deficientes imune a adequações, o trabalhador, o artista, a corrupção e a própria violência... tudo é insignificante. Infelizmente, estamos todos acostumados.
OBS: Eu vou ser seu bixo na PUC hehehe
Olá Dan Pessoa =)
ResponderExcluirPrimeiro agradeço pelo comentário. Gostei de suas considerações :D
Não sei se leu o post daqui "Eleitor Otário", falou bem disso, a indiferença da população! O q é mtooo grave!!
Isso é uma boa discussão! Gostei de sua contribuição!
Xiii..vai ser meu Bixo!! aiaia... eu sou Tãoo mauu!! rsrs
Vai adorar o curso!! E só pela visão crítica, tem td para ser bom jornalista.. Vamos discutir mtoo ein?? Oq nao te imuniza da minha "maldade" no trote!! rsrs
:D