terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Agradeço ainda, pela corrupção


“Oh, Minha Senhora e também Minha Mãe.
Eu me ofereço inteiramente toda vós.
Incomparável Mãe,
Guardai-me,
Defendei-me,
Como filha e propriedade vossa,
Amém.”

Todo ano vou à Aparecida do Norte, pedir e agradecer graças, que pela interseção de Nossa Senhora, se concretizam em minha vida e na vida das pessoas que amo.
É incrível como sempre temos algo para pedir. Inacreditável como somos insensíveis na hora de agradecer.
Alguém já agradeceu o sol que nos acorda? Ou a chuva que faz florescer? Reclama-se quando está quente, reclama-se quando faz frio.
Virtude tem aquele capaz de perceber as Graças que Deus presenteia-se. Pobre aquele que não enxerga o Pai nas curvas admiráveis da natureza.

Ano passado fui até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, e confesso que as circunstâncias daquele ano, dificultaram ainda mais a virtude da gratidão. Dificuldades financeiras, problemas familiares e de saúde tumultuaram o ano de 2008, e minha única esperança era pedir uma graça, confiando em Nossa Mãezinha. Foi o que fiz, quando poderia simplesmente, ter agradecido: “Obrigada por todas as dificuldades. Os desafios, fizeram-me crescer.”

Não soube agradecê-los. Confesso que não aceitava tudo aquilo. Queria uma vida como nos livros de Walt Disney. Será que merecia toda aquela turbulência?
Só hoje vejo o quanto as dificuldades fora, benéficas e me remeteram à realidade. Mais cedo ou mais tarde temos que sair da abstração. Feliz daquele que transcende em meio os obstáculos. Sábio e forte.

Não uso este espaço para descrever meus problemas, pois inevitavelmente todos os tem e não acredito ser válido amenizar uma dificuldade com outra maior. A validez fica por conta do aprendizado, que nos faz viver melhor e evoluir do homem que pede para aquele que agradece.

O ano de 2009 foi um ano de realizações profissionais. As pedras persistiram, mas os obstáculos já haviam me ensinado a desviar. Houveram dias de tempestades, sempre seguidas da calmaria. Às vezes o sol negava-se a aparecer, mas logo as nuvens caminhavam e a radiação voltava a iluminar meu dia.

Infelizmente, este ano não fui e provavelmente não irei ao Santuário de Nossa Senhora. Por isso, uso este espaço, como muitas vezes usei papéis espalhados pela Igreja de Aparecida, não para pedir, mas sim para agradecer.

Nossa Mãe sabe o que guarda o coraçãozinho de cada um de nós, porém gosto de expressar-me com as palavras, mesmo quando elas não suprimem o grau de gratidão. Palavras são apenas palavras e se perdem no vento. São incomparáveis à uma ação, porém podem servir de sugestão, para que o leitor também tenha motivos para agradecer.

Agradeço pelos pais que tenho, os amigos que conquisto e as oportunidades que enxergo.
Sou grata pela saúde que me faz ter fome, pelas pernas que me conduzem ao trabalho, pelos braços que permitem que eu escreva.
Muito obrigada pelos dias que estava triste, pois fizeram-me valorizar as pequenas alegrias.
Obrigada também pela Capitu (minha cachorrinha) que fez com que percebesse o quanto as palavras são desnecessárias, quando se tem um olhar terno.
Grata pelo trabalho que me faz dormir poucas horas, mas me garante o contato com gente humilde e de sensibilidade, com as quais muito aprendo e fico honrada em um pouco, poder ensinar.
Agradeço o dia que não comi o que queria, pois quando o fiz o sabor estava muito mais intenso.
Muito grata pelos “puxões de orelha”, já que estes impediram-me de cometer o mesmo erro.
Sou agradecida pela correria e o tempo escasso, eles fizeram-me cumprir metas e mostraram que com determinação, tudo é possível.
Obrigada pelas brigas e discussões. Ensinaram-me a reconhecer meus erros e quando não, mostram-me quem são meus verdadeiros amigos.
Agradeço imensamente a cobrança e pressão da faculdade, pois sou privilegiada, numa sociedade na qual poucos tem acesso ao ensino superior.
Obrigada por todas as dificuldades, fizeram-me com que prestasse atenção no canto de uma maritaca, fitasse um lago em meio à cidade, ouvisse atentamente os “causos” de pessoas mais experientes, valorizasse cada sorriso, cada momento ao lado das pessoas que amo, cada caractere digitado, cada palavra lida, cada olhar sincero.

A lista de agradecimentos é mais extensa do que imaginava. Vou parar por aqui, não por falta de conteúdo, mas temendo a extensão deste artigo.
Só não posso esquecer de agradecer por toda corrupção. Apesar de sermos roubados, na mais descarada ironia, agradeço pois, na situação de cidadão que paga seus impostos, a noite, durmo, sem que a consciência pese em meus sonhos. Desculpe-me acabar com um pedido, mas gostaria que os políticos corruptos percebessem o quanto a vida pode ser prazerosa, sem a necessidade de ferir o desfrute do seu próximo.
Assim seja.

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