segunda-feira, 5 de março de 2012

"Eu, a mídia e o mundo contemporâneo"


Só pra deixar claro: Esse post não é uma crítica ao Jornalismo, mas sim uma vontade de fazer melhor.
O tema (o título deste post) me foi dado por um professor, um exercício em sala de aula, na faculdade de Jornalismo. Vamos lá!



Eu me apaixono, enquanto a mídia me faz desapaixonar: São assassinatos e assassinos. Tem marido matando mulher. Tem mulher morta pelo filho. Tem filha que tem a vida roubada pelo namorado. Tem família que chora. Têm solitários que reclamam. Pra alguns falta água. Pra outros, sequer teto.

A mídia sabe e me conta. Conta pra todos, revela, mas a gente logo esquece.
Esqueço porque me apaixono. Apaixono-me pelo mesmo mundo do noticiário. Pelas mesmas pessoas que saem nele.

Eu esqueço e a mídia também. O novo sobressai o velho sem que este complete um aniversário. Eu sigo esse ritmo: O contemporâneo em que ninguém tem tempo pra nada. Um atropelo mútuo. Somos desenfreados e estamos sempre com pé no acelerador.
Eu também tento me aventurar, no entanto sai no jornal, vejo na TV e me falam no rádio: Tem gente que bebe, dirige e mata. Tem quem suba o Everest e nunca volte. Há quem vislumbre o céu, mas tem como destino a terra.

Ainda ouso sorrir, quando nas manchetes vejo gente que chora. Mostram-me filas em locais em que não se pode esperar. Vejo crianças sem brinquedos. Trabalhadores sem emprego. Doente sem remédio. Estudante com nenhum livro.
Penso também em ganhar dinheiro, constituir e manter uma família. No entanto, é a mídia que me mostra que é difícil, todavia que pode ser muito fácil. São colarinhos brancos, gravatas e maletas. Os caminhos têm sempre desvios. Os destinos nunca são os dos papéis.

Já imaginei um mundo dos contos de fadas e se não fosse o âncora do jornal, o repórter da matéria, o produtor que pensou, o editor que deu o “ok”, talvez eu pudesse viver nele. Eu prefiro ouvir o “hard news”, ver o jornal do meio-dia, ler nem que seja a edição de ontem. Eu posso clicar na web. Mas também posso me fechar.

Interesso-me só por aquilo que é do meu interesse. Criamos mundos não é? “Cada um no seu mundinho”. Como diziam: “cada macaco no seu galho”. É, nós criamos, ou alguém criou e a mídia, toda poderosa, toda influente, aproveitou esta oportunidade. Eu vejo uma sociedade que lutou contra a segregação e hoje é segmentada nos assuntos tratados nos jornais e revistas. Sei que muita gente lutou por uma democracia, no entanto nos jornais o que vejo é uma minoria. De vez em quando dão espaço pro mais pobre falar, escrevem a matéria do jornal, publicam. Mas esquecem que o mais pobre, sequer sabe ler.

Já vi frieza em horas que exigem emoção. É a tal objetividade. No entanto, como ser objetivo num mundo tão complexo? Tem gente que tenta ouvir os dois lados, mas não percebe que se trata de círculo.

Cidadã que lê, ouve, vê e procura na Internet. Chega a hora que se transforma.
Viro jornalista. Já não leio, não vejo e prefiro não ouvir. Eu produzo. Produzo com a consciência de que não posso cair no industrial. Prezo pelo artesanato, num deadline que nem as fábricas da China seriam capazes de cumprir.

Todavia, esculpir é arte do jornalista. Apurar é escolher a aquarela. Checar é verificar os pincéis. Credibilidade vem na tela de pintura. O compromisso com leitor é a mão que faz o desenho. Pintar uma realidade: É isso que Jornalismo faz -Uns com traços grotescos, outros ficam no abstrato.

Jornalismo é pintura que causa reações e por isso se deve ter todo cuidado ao pintar com preto. Porém, nem tudo pode ser branco, porque a alienação deve ser combatida.
Não sei como é para o pintor. Mas no quadro diário do jornalismo não é fácil encontrar a melhor nuance. Fazer as sombras é para os mestres. Não se perder no tom exige conhecimento.

Vejo muitos quadros. Alguns até iguais. Poucos são feitos por artistas.
Vejo telas sujas e feias. E me avisam que é essa realidade.
Visto-me de artista ou mera jornalista e comprovo que o mundo é mesmo assim. Eles não me enganam. Eu não tento enganar quem me lê. Eu retrato o que vejo, o que me contam. O problema é que eu, eles e até os melhores pintores, esquecem que a mesma “Monalisa” poderia ser vista de perfil: o direito e o esquerdo. Retratada de costas. Da cintura pra baixo...

A realidade de hoje é essa. A imprensa tem a possibilidade. O jornalista tem a técnica. Às vezes sinto falta da sensibilidade. Não é chorar: é enxergar além do que se pode ver.

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